sábado, 11 de fevereiro de 2012

É PRECISO DIZER BASTA

11horas da manhã do dia 11 de Agosto de 1981. O 1º Ministro do VII Governo constitucional chega ao palácio de Belém para apresentar, ao Presidente da Republica, o seu pedido de demissão como chefe do Governo.
Oito meses após a morte de Sá Carneiro, e em sequência de enorme agitação política, particularmente dentro do PSD, o País fica sem Governo.
A opinião do Henrique, expressa a um jornalista do semanário “O Tempo” é a seguinte:
 “ O pedido de exoneração do Primeiro Ministro foi a consequência inevitável do comportamento e dos objectivos  perseguidos pelo impropriamente chamado “grupo” dos críticos. A atitude não poderia ser outra depois daquilo a que se assistiu no último Conselho Nacional do PSD, onde uma minoria, aliás, quanto a mim, não homogénea, de pessoas, se recusou a dar-lhe condições para continuar na chefia do Executivo. E mais: quando o Dr. Balsemão, face ao espectáculo de radicalização criado pela minoria ao longo dos debates, sentiu o risco de quebra da unidade do partido, dispôs-se até ao último momento a aceitar uma plataforma de conciliação para ultrapassar esse risco. Pois nem sequer essa plataforma foi aceite por consenso, como se verificou pelos resultados da votação. Estes factos, que não são confidenciais porque já toda a imprensa os relatou, e que correspondem, em síntese, à verdade do que sucedeu no Conselho, criaram as condições políticas inevitáveis para a apresentação do pedido de exoneração do Primeiro Ministro.
Algumas pessoas têm-se mostrado surpreendidas com o imprevisto deste desfecho. Não há aqui nada de surpreendente. Quando ao longo destes meses, se assistiu a uma campanha sistemática de deterioração da imagem do Governo e, sobretudo, do Primeiro Ministro; quando, publicamente, e antes do Conselho Nacional  se vem exigir a demissão do Chefe do Executivo; quando se ouvem, ao longo do Conselho Nacional do PSD críticas de uma dureza atroz, algumas de sentido totalmente demolidor e, até palavras ofensivas da dignidade pessoal, quando se diz, frente a frente que este Primeiro Ministro não tem capacidade de realização, que se deve demitir imediatamente, porque se não o fizer no dia seguinte continuará a campanha de obstrução ao Governo, e quando se recusa a mais ampla hipótese  de conjugação de esforços e de conciliação de posições – quando tudo isto acontece, não há que surpreender ter o desfecho sido o que foi. Pretendia-se enfraquecer ainda mais a posição do Primeiro Ministro, pretendia-se desgastar por algum tempo mais este Governo, pretendia-se fazer deteriorar a situação política ao ponto de haver de surgir então, naturalmente apetecida, outra liderança, outro Governo e outro projecto político, sob a capa de renovação do actual. A isto respondeu o Dr. Balsemão com um rotundo “não” e um firme “basta”. Tenho para mim que foi uma atitude coerente, uma posição digna e uma solução correcta."


IN "O Tempo" 13 de Agosto 1981