quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A PEDRA DE TOQUE


Abril de 1958 – Jogos florais da Universidade do Porto. Concorrer, era um imperativo para o Henrique. Concorrer, mesmo em cima da hora. Escrever, testar perante os outros as suas capacidades, pôr-se à prova! Desafiar opiniões, enfrentar os adversários! E o dilema de sempre: e a Faculdade? Como deixar para segundo plano os estudos sem comprometer o resultado dos exames?

"Quando se concorre, o trabalho a apresentar deve ser feito com tempo e calma. Um conto, uma reportagem ou qualquer outra coisa no género não se faz de um dia para o outro – leva tempo, requer atenção, boa disposição e jeito, claro. Tempo, já não tenho muito; todo o que tenho é para estudar, e esse mal sabe Deus como me chega! Portanto para concorrer a esta ou àquela iniciativa, necessitava de fazer um pequeno sacrifício: de estudar, ler e escrever, tudo ao mesmo tempo. Calma é coisa que nunca tive. É defeito meu tomar decisões destas à última hora: e, depois, se por acaso não conseguir ganhar nada, fico admirado.
Se eu ganhar, isso será muito natural para aqueles que pensam que eu sou uma espécie de máquina que não pode falhar; se eu perder, tal será por outro lado, uma satisfação para aqueles que pensam, também, que pouco valho, e que, quando ganho é por sorte!
Há muitas pessoas que têm a mania que eu sou algo de anormal, capaz de tudo e mais alguma coisa sem olhar ao resto - e comparam-me, no meu entender, a uma máquina que nunca falha no trabalhar! Esquecem-se, coitados, que por vezes, um pequeno grão de areia pode empanar o maquinismo! Sabes o que disseram quando ganhei a menção honrosa? Podias, se quisesses, ter ganho o 1º prémio – que pena! Podias se quisesses ter ganho o 1º prémio! Ora bolas! Com certeza, se não ganhei  foi porque não quis, não? E depois há os que pensam que tudo isto acontece, não porque eu possa ter algum valor, mas porque tenho muita sorte! Opiniões… De qualquer maneira, se a uns e a outros eu já não dava importância, o pior é que agora deixei de dar a mim próprio! Hão-de convencer-se de que eu nem sou 100 nem 10! O meio termo é que me interessa .
Se continuo a pensar que não tenho motivos fortes para lutar e vencer, posso muito bem ir estragar a minha vida com estas palermices.
Não sei porque motivo me terão vindo ideias tão estranhas; o que é certo é que não encontro, por mais que procure a “Pedra de Toque” que me empurre".