segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

CONSCIÊNCIA DE ESQUERDA?


1981. Durante o mês de Julho torna-se evidente que o VII Governo Constitucional estava ferido de morte.
O mês de Agosto foi caótico. Do Henrique retenho algumas linhas escritas a 26 de Agosto desse ano: "Passei o dia dos meus anos em São Bento e passo, também em São Bento, o dia do nosso aniversário. O 1º Mº quer que eu esteja hoje e amanhã em Lisboa. Sinto que vou como para um enterro. Apetecia-me fugir disto tudo. Perdoa-me não ter andado com disposição para falar contigo”.
 A queda do VII Governo, a intensa crise que se vivia dentro do PSD e da coligação governamental, a assumpção do cargo de Vice – Presidente do partido, foram tema de uma conversa entre o Henrique e o jornalista Vitor Serra do jornal “O Tempo”( 1 de Outubro de 1981)
"V.S. Considera-se uma espécie de “consciência de esquerda” do PSD, como um semanário lhe chamou há dias? Isso supõe que no seu partido há correntes diversas. Aceita que elas vão desde a social-democrata à extrema-direita? Qual é a sua visão do partido, agora na qualidade de Vice – Presidente?"
NR "Penso que um partido social-democrata deve ser um agente colectivo de transformações sociais viáveis, um aguilhão permanente na luta contra as injustiças e desigualdades, os oportunistas e a corrupção, um catalisador no processo de libertação do Homem e da humanização da sociedade. O PSD foi fundado como um partido de centro – esquerda. E sempre o seu líder histórico, Sá Carneiro, o posicionou assim e os militantes no seu conjunto lhe mantiveram esse perfil. Não há a mínima razão para desvios dessa linha. Não foi com pretensas ortodoxias, de cariz divorciado das nossas realidades e da maneira de ser das populações, que nos transformamos no maior partido. Como o não foi nunca por cedências a um conservadorismo de retorno a soluções ultrapassadas e a práticas repetidamente fracassadas. Se lhe refiro isto, é para lhe dizer que não me sinto com consciência de nada dentro do PSD. Tenho, sim, a consciência de que me sinto bem no PSD, enquanto expressão de uma social-democracia pragmática, que aceita a tensão natural da vida e a dinâmica das ideias inspiradas pelos valores da liberdade, da solidariedade e da justiça. E por isso defendo como salutar a existência de correntes, de sensibilidades ou maneiras de pensar diversificadas no interior do partido, assentes e arrancando dos fundamentos básicos que aglutinam os sociais-democratas. E elas existem, exactamente porque somos um partido democrático e social-democrata! Mas daí até adiantar-se que percorrem o PSD tendências ou grupos que vão da extrema direita à social-democracia, isso é uma suposição incorrecta e que não aceito de modo algum"