sábado, 18 de fevereiro de 2012

CLARIFICAÇÂO


Estamos em Dezembro de 1981. O Henrique assume por inteiro e em exclusividade o lugar de Vice- Presidente do PSD  que prepara o seu Congresso . A 5/12 é entrevistado pelo jornal “O Dia”
P- Nas suas declarações tem sempre acentuado que o PSD se define como partido de centro-esquerda. Está mesmo convencido de que essa caracterização é correcta?
R-“ Não me sentiria bem com a minha própria consciência se tivesse entrado e me mantivesse no PSD começando por lhe renegar o Programa. Trata-se, antes de mais, de respeitar o programa a que se adere. Trata-se também de respeitar a Democracia,  pois esta não existe sem partidos políticos bem identificados, com projectos e propostas bem diferenciados. Não se serve a Democracia quando se pretende meter no mesmo bojo partidário visões ideológicas, programáticas e políticas opostas.
A clarificação, ( como definição de campos políticos subsequentes a uma definição de modelos de sociedade e de perspectivas políticas), é uma condição vital de afirmação partidária e de amadurecimento do regime.
O PSD assumiu-se sempre como um partido interclassista, é certo, mas reformista, não conservador nem marxista, portanto. Foi nessa linha de orientação que ganhou a adesão da maior parte da juventude, de expressivo número de trabalhadores por conta de outrem, de agricultores, de quadros técnicos e profissionais independentes, etc. A sua orientação política de fundo foi sempre no sentido do combate às injustiças e desigualdades pela via das reformas realistas e sucessivas.
Mas quando falamos de desigualdades não é no sentido marxista, ele também, nessa medida, conservador. Há em Portugal muitos milhares de pequenos agricultores ou comerciantes, por exemplo, que não têm 30 dias de férias pagas nem subsídio de doença, nem 13º mês. Há viúvas com pensão de sobrevivência bem inferior ao salário mínimo nacional. Há intermediários que escapam escandalosamente aos pagamento de impostos e fazem fortuna num ápice. Há o duplo emprego como única forma de sobrevivência no dia-a-dia e o duplo emprego como fonte de aquisição de uma casa de campo. E por aí fora…
Corrigir gradualmente estas situações, apontando para uma ordem económica e social mais justa, não é possível, do meu ponto de vista, senão com uma política social democrata e, portanto, com um partido social-democrata que se posicione como tal.”
IN “O DIA”, 5 de Dezembro  de 1981