segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

SOCIAL DEMOCRATA CONVICTO


A 4 de Dezembro de 1981 “O Comércio do Porto”, publica um número especial a relembrar a tragédia de Camarate de 4 de Dezembro de 1980. Um dos entrevistados foi o Henrique.
“Julgo que Sá Carneiro expressou para o nosso povo a personificação de muito daquilo que ele encara no perfil do português autentico: a verticalidade, a frontalidade, a coragem e a clareza; a teimosia, a persistência e a combatividade ardorosa , ligada à sobriedade de actuação do estadista e ao rigor do pensamento, a confiança que sabia transmitir. Tive vários contactos com Sá Carneiro, por razões partidárias, mas não o conheci  bem. Não me sinto, pois legitimado para falar do homem, cujo quotidiano não acompanhei. As relações que mantivemos foram sempre correctas e cordiais, não obstante Sá Carneiro saber que divergi das suas opções em alguns momentos. Ao contrário da imagem que por vezes se pretendeu criar, nunca me pareceu um homem rígido nas suas ideias. Apoiou decididamente os sindicalistas socialistas democráticos afectos ao PSD, quando a maioria desses entendeu dever aliar-se aos sindicalistas socialistas democráticos e a outras tendências sindicais democráticas para constituir a UGT. Tinha a visão muito clara de que era vital para a democracia portuguesa a existência de um forte movimento sindical livre e independente. Nunca me apercebi de que defendesse qualquer controlo do PSD sobre os sindicalistas que são militantes do partido, sempre, ao contrário, propugnou uma rigorosa diferenciação entre a acção sindical e a acção partidária.
Fui chamado por Sá Carneiro a elaborar o programa da AD, na parte específica referente a Trabalho e Sindicalismo, convidou-me a ser membro fundador do IPSD e só me decidi a aceitar a candidatura a deputado depois de saber que ele considerava indispensável que, na Assembleia da República, se defendesse, à banda do PSD, um projecto de reformas laborais realistas, simultaneamente não conservador nem falsamente progressista. Tinha uma grande preocupação pela situação dos trabalhadores mais carenciados, era um social-democrata convicto.
E é isto o que posso dizer, resumidamente, sobre o que conheci de Sá Carneiro no relacionamento que com ele mantive. Repito que não me arvoro em conhecedor da sua personalidade. Respeito suficientemente a sua memória, a sua coragem, para invocar falsamente ou para o misturar com ideias e atitudes que porventura não tenha defendido. É a minha maneira de lhe prestar homenagem: na verdade.
 IN "O Comércio do Porto",4 de Dezembro de 1981