quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

COERÊNCIA E DIGNIDADE


4 de Setembro de 1981. Toma posse o VIII Governo Constitucional. Em entrevista ao Semanário Expresso, o Henrique explica, mais uma vez, as razões que o levaram a deixar a pasta do Trabalho
 EXPRESSO Por que razão não aceitou fazer parte deste novo Governo AD?
 N.R. – "Há algum tempo já que eu tinha solicitado ao senhor primeiro ministro, quer verbalmente, quer depois por escrito, que me dispensasse de continuar à frente do Ministério do Trabalho. Fiz esse pedido em síntese, por três ordens de razões interligadas: por aquilo que consinto ser os interesses nacionais, em primeiro lugar; em segundo lugar, por considerar, face a isso, que se encontrava durante algum tempo  precludido o projecto, e até o estilo pessoal de actuação, que eu vinha prosseguindo no âmbito da política laboral por que fui directamente responsável; em terceiro lugar por coerência e dignidade pessoal, tais como a minha consciência as interpretou.
Desejaria sublinhar que o primeiro-ministro ponderou atentamente o meu pedido e procurou persuadir-me a continuar como responsável pelo Ministério do Trabalho. Não posso senão sensibilizar-me com tal atitude. Mas ele próprio veio a reconhecer a pertinência das razões que invoquei e aceitou-as inteiramente"
EXP – Não pode especificar melhor essas razões?
N.R.- "Creio ter sido claro na resposta. Não há aqui nada escondido, tudo simples! No fundo, repare, do que se trata é de escolher o perfil dos governantes em função da política que se anteveja como necessária, e não de definir a política em função de homens previamente escolhidos. Pelo menos é assim que encaro os passos de formação de um novo Governo. Devem definir-se os objectivos e as políticas, depois a orgânica governamental adequada, e só no fim as pessoas tidas como mais aptas para levar a cabo as metas traçadas.
Penso que toda esta explicação é suficiente e entendível. Qualquer esclarecimento complementar e mais pormenorizado cabe ao senhor primeiro-ministro, se, quando e como ele o julgar conveniente. E volto a sublinhar que ambos convergimos na solução da minha saída do Governo, ou, mais precisamente, do Ministério do Trabalho."
(…)
EXP- Vamos terminar; que cargo pensa que poderá vir a ocupar na Assembleia da Republica ou no PSD?
N.R. – "Retomarei o mandato de deputado, para que fui eleito e nada mais. Quanto ao PSD o presidente do partido quis ter para comigo o gesto de confiança de propôr à Comissão Política Nacional a indigitação do meu nome para o futuro vice - presidente. Sei que a comissão politica em reunião em que não pude estar presente, deliberou por unanimidade a minha candidatura para esse cargo. O órgão com legitimidade para decidir é o Conselho Nacional, enquanto não se realizar o próximo Congresso. Aceitarei as tarefas que me atribuírem com a militância que nunca recusei ao meu partido, desde que me sinta capaz de as exercer com validade para o PSD, para a social democracia e para o País."
Expresso 5 de Setembro de 1981
Fotografia -  Cerimónia de posse do VIII Governo