quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

ANGOLA NO CORAÇÃO


A Casa dos Estudantes do Império (extinta em 1965), com sede em Lisboa,  (Avenida Duque dʼÁvila número 23, esquina com a Rua D. Estefânia), era, em 1958, um ponto de encontro de estudantes  angolanos, entre si e, com a sua terra distante.
Todos eles defendiam, a seu modo, o facto de serem angolanos, e de desejarem que Angola fosse uma terra livre e progressista. O Henrique, nos seus jovens 17 anos, percebeu que estava isolado no seu modo de encarar o futuro de Angola.
“ Nunca me darei por vencido! Eu deixaria de ser eu se fosse derrotado. Essa hipótese põe-se-me tão improvável como se eu pudesse trazer a lua dentro do bolso do meu casaco!
Se eu “menino e moço” marquei o meu destino, tracei o rumo da minha vida, em muitos pontos diferentes do que me tinham destinado – eu mesmo que me fiz a mim mesmo, não vou deixar de ser o mesmo! Os sonhos que eu sonhava, sonho-os ainda hoje;  e se a vida me for adversa, tudo o que de mau há nela terá de me derrubar e passar sobre mim para que eu renuncie. Mas para que ela passe sobre mim, será necessário que eu já não tenha forças para passar eu por cima dela. Só nesse dia, porventura, terei desistido de sonhar.
Continuarei a sonhar com o que quero até quando eu quiser; e se outros sonhos, provenientes de outra idade me vierem povoar a mente, os antigos não serão relegados para 2º plano.
Também a mim “menino e moço” me levaram da minha terra para outra terra que não a minha,  mas eu hei-de voltar – nota bem – à minha terra, tão moço como dela saí! O corpo poderá ser já velho; mas o espírito há-de ser o mesmo revoltoso e  sonhador  ao mesmo tempo. Porque se não for,  eu prefiro ficar cá a ir desonrar a minha terra com as ideias que aqui se respiram. Ou volto sendo o mesmo, ou então não volto – e eu hei-de voltar!”

Lisboa Abril de 1958