sábado, 10 de março de 2012

UM POLÍTICO QUE VIA LONGE


1983. Pinto Balsemão está demissionário  do Governo. No início do ano os parceiros da coligação parecem ainda dispostos a dar um novo fôlego à AD possibilitando a constituição de  novo Governo evitando, assim, eleições antecipadas.
No dia 12 de Janeiro o Henrique concede uma entrevista ao “Povo Livre” órgão oficial do PSD
Povo Livre – Como é que encara a situação política actual?
N.R.  “Seria, no mínimo, estranho que num partido como o nosso se registasse uniformidade de opiniões a respeito do momento político que atravessamos, e que é delicado. Caso esteja certo na perspectiva que tenho acerca do sentir da maioria dos nossos militantes, responder-lhe-ia, porém, que, há um grande desejo que o novo Governo seja capaz de formular e levar a cabo, no contexto das constrições económico-financeiras conhecidas e no quadro de uma orientação de reformas democráticas graduais viáveis, uma política de reequilíbrio orçamental e de diminuição do endividamento externo, de moralização da Administração Pública e do sector empresarial do Estado, de contenção do crescimento da inflação, de recuperação nos desvios ao financiamento orçamental por via das receitas fiscais e outras, de ataque aos abusos na utilização de direitos sociais, de rigoroso controlo na aplicação efectiva do crédito concedido, de promoção de condições para uma produtividade empresarial que a concorrência internacional exige não se esconda sob o argumento capcioso de que é impossível porque a lei da greve obsta ao desenvolvimento económico, ou de que não é possível sem a intangibilidade do actual quadro normativo de garantia, tantas vezes artificial, dos postos de trabalho – e muito mais que compete traçar num programa de Governo e não nesta entrevista, como é evidente.
Creio, em suma, que existe no Partido um crédito de esperança e uma margem significativa de apoio ao Governo, que desejamos que seja rapidamente constituído, para que também rapidamente faça o que tem que fazer: governar. Os que não acreditam que digam então como é! Mas que se diga sem a ligeireza fútil da crítica vazia de apresentação concomitante de alternativas concretas de soluções.”
IN “ O Povo Livre 12 de Janeiro de 1983