domingo, 11 de março de 2012

NUM DOMINGO EM ABRIL

Domingo, 11 de Abril de 2010. Precisamente a esta hora disseste-me:" não me dês o pequeno almoço, não estou bem disposto". Passaram 23 meses. Não tenho, sequer, consciência da tua morte. Para mim, não morreste. Só não estás aqui. E dói. Porque não entendo. Estás tão presente, que te sinto em todos os momentos da minha vida; quando me deito, quando me levanto, quando ando ou estou parada. Estás em todo o lado. A espera é permanente: de acontecimentos, de mensagens de regresso, de ti, de qualquer facto que te traga de volta. Nada é definitivo. Para mim, a tua morte não é um acontecimento concreto. O Henrique que eu conheci está aqui, sempre; quando falo com os filhos, quando olho para os netos, nas mínimas tarefas. Quando chove ou faz sol. Quando está frio ou vento. Não estou viva se não falar contigo, (ou de ti), em todos os momentos. Tudo é ilusório. Só o que escrevo e o que leio, de ti e sobre ti, tem existência real. Nem a idade é a nossa. Transportei-me para a nossa adolescência comum, vivo perfeitamente contigo os nossos 15, 16, 17 anos e por aí fora. Os nossos sonhos? Aqui estão! Lembras-te quando eu dizia que tínhamos 10 filhos? Vão estando cá... todos. São estes os factos concretos que me dizem que estás aqui. Eu falo e respondo por ti. Às vezes pergunto-me: será que eu tenho uma vida de "faz de conta"? Faz de conta que o Henrique não morreu, faz de conta que sou feliz, faz de conta que tudo corre bem, faz de conta, faz de conta, faz de conta...
Mas, depois, olho em volta: o que tu escreveste, sonhaste, viveste, criaste, legaste, os filhos que deixaste, não são faz de conta. A realidade concreta não pode ser faz de conta. Se nada disto é faz de conta, quando digo que para mim tu não morreste, também não é faz de conta. É real. mesmo que a realidade se plasme noutra época, noutro espaço, noutro tempo.l