quarta-feira, 14 de março de 2012

A REFORMA DO REFORMISMO


23 de Janeiro de 1983. O Presidente da Republica, depois de ouvir os partidos e o Conselho de Estado, anuncia a sua decisão de dissolver o Parlamento e, marcar eleições antecipadas. Os partidos da AD (CDS e PSD), preparam os seus Congressos.
   
O jornalista pergunta ao Henrique - "Entende que o próximo Congresso deverá constituir, fundamentalmente, uma reflexão sobre a identidade do Partido e sobre as propostas concretas do PSD para a sociedade portuguesa?"

N.R.- “Sim, mas uma reflexão com conclusões tão concretas quanto possível. A social-democracia tem como objectivo a realização de uma ordem política, económica e social mais democrática, no respeito pelos valores da Liberdade, da Justiça e da Solidariedade. Esse objectivo e esses valores não estão em causa. O que acontece é que a transformação democrática da nossa sociedade continua a defrontar-se com barreiras ainda não ultrapassadas. Por outro lado, a evolução a nível internacional tem sido de tal ordem – recordo os problemas do desemprego, do meio ambiente, do endividamento externo, etc – que em parte alguma se conseguiu ainda responder, com eficácia, aos desafios persistentes desta crise.
É neste sentido que alguns propõem a “reforma do reformismo” expressão sugestiva que tem a ver com a necessidade de se encontrarem respostas, pragmáticas e diferentes das tradicionais, para ultrapassagem da crise. Esta tem para o nosso País, devido a factores conhecidos, reflexos particularmente graves. Razão acrescida, pois, para que avancemos com propostas muito concretas, bem assentes no condicionalismo português (eu não acredito numa social – democracia fotocopiada!), que consigam motivar o nosso Povo para a repartição a repartição equitativa dos sacrifícios a que não podemos escapar. Diria, em suma, que é preciso avançar com determinação e com vontade em medidas que são ditas impopulares, mas que são imprescindíveis. Medidas faseadas e equilibradas. Faseadas, porque o contrário significaria, afinal a ausência de um verdadeiro projecto viável de desenvolvimento. E equilibradas, no sentido de que à coragem de romper de vez com bloqueios que se instalaram na nossa sociedade se deve contrapor a procura permanente do mais largo consenso social possível.
Bem sei que isto é difícil e poderá, até parecer contraditório. De acordo. Mas julgo que uma das características peculiares da social-democracia estará, exactamente, nessa gestão lúcida e perseverante dos equilíbrios sociais”.
Lisboa, Janeiro de 1983