Há já não sei quantos dias, talvez uns seis, que estamos isolados da Praia. Durante dois dias choveu torrencialmente e a estrada, que já de si é bastante má, ficou interrompida em vários pontos, por isso não tem ido nem vindo correio.
Quando não chove os dias também não estão bons, de modo que nunca mais tornei a dar passeios. A minha vida limita-se ao estudo, a ir jogar pingue-pongue ao clube e a conversar um pouco.
É evidente que não tenho ambiente de estudo nenhum e muito pouco tenho adiantado. Estou cheio de receio, inclusivamente sabemos que o “Quanza” devia passar para Lisboa depois do “Alfredo da Silva”, de modo que podia estar cá mais uns 10 dias. Mas com o atraso enorme com que estou na matéria consegui convencer o meu pai a desistir do”Quanza”.
Tenho que fazer mesmo as duas cadeiras e praticamente não avancei nada na matéria e pouco avançarei também até Lisboa, porque, nestes barcos praticamente não há sítio onde uma pessoa possa estar.
Já sei que o “ Manuel Alfredo ” vai com a lotação esgotada e isso significa que nem sequer há cadeiras para toda a gente.
Ora, no camarote é quase impossível estudar. E, depois, são apenas 13 dias e não sei como vou poder estudar os cinco volumes que correspondem às duas cadeiras. Estou mesmo mal e não posso perder tempo.
Seria o maior abalo da minha vida se eu reprovasse agora. Isso não pode acontecer por nada deste mundo. Depois dos exames tenho que ir falar com o P. Correia e o Alvura e outro Senhor para quem levo cartas de recomendação. Agora tudo depende deles para eu conseguir ficar colocado em Lisboa.
2 de Setembro 1963