segunda-feira, 18 de março de 2013

POR UM MUNDO MAIS SOLIDÁRIO


Estamos em 2005. Desde 2000 que é Provedor de Justiça. O conhecimento que tem dos problemas do País é agora mais abrangente, e sente-se céptico e preocupado mas afirma: “Com a idade vamos ficando mais cépticos, pelo conhecimento que temos das coisas. Já não temos aquela capacidade de luta que temos com 20 com 30 40, e, mesmo com cinquenta anos. Eu prefiro atribuir à idade este algum desencanto e cepticismo que tenho com a situação do país, não apenas com a situação económico financeira.”
Que situação é esta que o deixa tão céptico, tão preocupado? Será que, após quarenta e um anos de trabalho por uma sociedade mais justa, se sente desiludido? Porquê?
A questão central que vem sendo colocada nos países europeus é a da perda progressiva de direitos sociais conquistados…. entre nós, principalmente a partir do 25 de Abril.
Vamos tomando consciência, inexoravelmente, de que o crescimento económico da Europa é persistentemente baixo. Entre nós, sobretudo a partir do início do século, (….), fazendo-nos regredir em relação à média dos outros países europeus e despoletando, mais uma vez, taxas de desemprego indesejáveis. O sistema de protecção social, por seu turno, dá sinais evidentes de fissuras, pela baixa taxa de natalidade, pela insuficiência de recursos financeiros, o alongamento da esperança de vida e a maior durabilidade das pensões, o peso dos cuidados de saúde, o crescimento sustentado do desemprego e a persistência de faixas de pobreza e de exclusão social (…).
É verdade que a globalização visibilisou muito mais a concorrência, a competitividade, a produtividade, as alterações nas estruturas da empresas, dos grupos económicos, das parcerias e das redes empresariais, (…), mas não foi decerto, a globalização que nos levou a registar baixas taxas de fecundidade, tal como a ela não se devem as nossas taxas de abandono  e de insucesso escolar, a ineficácia da Justiça, o incumprimento demasiado generalizado das leis, o desordenamento urbano ou a iniquidade fiscal, por exemplo; e não é a ameaça da China, da Índia ou de outras economias emergentes a causadora principal dos nossos problemas de competitividade. Num mundo cada vez mais aberto, e que se pretende solidário, não é curial que aos outros se recuse o progresso económico e social em nosso benefício, mormente quando este se revela assente em ineficiências persistentes”.

Excerto de uma intervenção no IX Congresso de Direito do Trabalho. Lisboa 10 de Novembro de 2005