Na entrevista conduzida por Ana Sousa Dias
o Henrique confessa, como lemos, que tem saudades da sua terra, dos seus
cheiros das suas cores. Aos 17, 18 anos, o Henrique era só emoções,
sentimentos à flor da pele, que se revelavam quando escrevia, e podem crer que
escrevia muito. Neste texto de 1958, podemos sentir a mágoa de alma por estar longe da terra onde nasceu:
“Noites da minha terra! Noites que são pedaços de mim próprio,
porque na pureza do ar está a pureza da minha alma e, na sensualidade do
mistério que as envolve, está a sensualidade do meu sangue quente desse sangue
que eu sinto ferver dentro de mim!
Oh, noites de Angola!
Noites de magia tropical, de sedutora beleza e perfume inebriante! Noites puras
e sensuais ao mesmo tempo, em que a alma ingénua de uma criança se possa aliar
ao sangue quente da mocidade! Noites que não têm principio nem fim, porque
nasceram não se sabe quando, e morrerão só quando deixarem de ser noites de
Angola.
Noites de Angola! Noites da minha terra! Poemas imorredoiros de
Amor e Paz, escritos pela Mãe Natureza, destes à luz da vossa sombra a alma
eternamente enamorada que eu sou!
Noites de Angola – porque tão longe me ficastes?
Saudade meu bem Saudade"……
Lisboa 1958