pisa o palco
desconhecido.
O busto arfa
em palpitação subtil.
Veste tule branco e
lantejoulas.
Ergue-se em pontas.
Calca o chão
em rodopio delicado e
saltitante.
Receosa,
requebra- se em
passos de harmonia.
E a bailarina chora lagrimas
negras
de maquilhagem.
Na plateia,
olhos sem vida
de cabeças poisadas
com apatia
E a bailarina reza
Avé-Maria cheia de
graça
E a bailarina baila
Livram-se os pés dessa
imagem de emoção
e cavalgam em marcha
sem horizontes.
Os braços voam
em contorções
orientais
meneiam-se,
afagam súplicas,
acariciam o rosto de
alguém
que já não volta.
Não há terra.
Não há céu.
Só o ritmo inconsciente
de fascínio
no mavioso bater das
notas no piano
Braços, pernas,
sombras
arrancam o véu tirano
do destino
para dançarem até ao
fim.
Em vagalhão clamoroso,
a plateia aplaude de
pé
freneticamente
E na ribalta,
atapetada por flores
brancas
de ventura,
jazem
as duas sapatilhas de
veludo
Foi em 1956 ou 1957 que o jornal a Huila (Lubango),
publicou um dos maravilhosos contos da sua adolescência, A Bailarina. O poema,
é um excerto desse conto que o Henrique escreveu sob um pseudónimo - "Rialto
Sabrina".