terça-feira, 12 de março de 2013

A BAILARINA - O POEMA



Poética silhueta do poente,
pisa o palco desconhecido.
O busto arfa
em palpitação subtil.
Veste tule branco e lantejoulas.
Ergue-se em pontas.
Calca o chão
em rodopio delicado e saltitante.
Receosa,
requebra- se em passos de harmonia.
E a bailarina chora lagrimas negras
 de maquilhagem.
Na plateia,
olhos sem vida
de cabeças poisadas com apatia
E a bailarina reza
Avé-Maria cheia de graça
E a bailarina baila
Livram-se os pés dessa imagem de emoção
e cavalgam em marcha sem horizontes.
Os braços voam
em contorções orientais
meneiam-se,
afagam súplicas,
acariciam o rosto de alguém
que já não volta.
Não há terra.
Não há céu.
Só o ritmo inconsciente de fascínio
no mavioso bater das notas no piano
Braços, pernas, sombras
arrancam o véu tirano do destino
para dançarem até ao fim.
Em vagalhão clamoroso,
a plateia aplaude de pé
freneticamente
E na ribalta,
atapetada por flores brancas
de ventura,
jazem
as duas sapatilhas de veludo

Foi em 1956 ou 1957 que o jornal a Huila (Lubango), publicou um dos maravilhosos contos da sua adolescência, A Bailarina. O poema, é um excerto desse conto que o Henrique escreveu sob um pseudónimo - "Rialto Sabrina".