quinta-feira, 7 de março de 2013

SAUDADES MEU BEM SAUDADES


Para um jovem de 17 anos - habituado ao convívio franco e à dimensão de África - a pequenez do elitismo segregacionista da Faculdade de Direito de Lisboa foi um balde de água fria no sua alma sensível de adolescente. Sonhava com grandes voos, mas as saudades de Angola, colavam-se-lhe na pele.
Saudades das noites da minha terra, o Tempo não mas mata, a Distância não mas diminui - o Tempo mas faz reviver, a Distância as faz aumentar. Noites de Angola!!! Noites negras, ou de luar, de silêncio ou de batuque, de amor ou solidão, eram sempre noites da minha terra. que tão longe me ficou para meu mal.
Noites de Angola são só… noites de Angola! Não há no mundo em redor, eu sinto-o, poesia mais bela e prosa mais altiva do que essas horas intermináveis, em que a vida é simplesmente a vida, e Deus é Deus e eu era só eu e mais ninguém do que eu e fosse outro.
Nem há ninguém, tampouco capaz de as descrever e passá-las à imortalidade no documento ou na expressão de qualquer arte. Elas são, por natureza, insusceptíveis de reprodução, imortais como a alma da minha terra, a chama viva e infinda que perpetuará Angola pelo decorrer afora dos séculos. Angola não morrerá enquanto as noites da minha terra forem as noites de Angola!
Neste Portugal do Continente, a noite é triste e fria, com uma chuva choramingas pingando horas afio nos vitrais da minha janela. A tarde é parda, a noite escura, a manhã sem sol - e não há vida, nem poesia, meu amor, porque a vida, a poesia e a beleza sentem-se na noite que é noite ou sabe ser noite! – E as noites da Metrópole não são noites, porque não têm vida, beleza nem amor – não têm nada sem ser chuva ou tristeza".

Lisboa 1958.