Para um jovem de 17 anos - habituado ao convívio franco e à dimensão de África - a pequenez do elitismo segregacionista da Faculdade de Direito de Lisboa foi um balde de água fria no sua alma sensível de adolescente. Sonhava com grandes voos, mas as saudades de Angola, colavam-se-lhe na pele.
“Saudades das noites da minha terra, o Tempo não mas mata, a Distância
não mas diminui - o Tempo mas faz reviver, a Distância as faz aumentar. Noites
de Angola!!! Noites negras, ou de luar, de silêncio ou de batuque, de amor ou
solidão, eram sempre noites da minha terra. que tão longe me ficou para meu
mal.
Noites de Angola são só… noites de Angola! Não há no mundo em
redor, eu sinto-o, poesia mais bela e prosa mais altiva do que essas horas
intermináveis, em que a vida é simplesmente a vida, e Deus é Deus e eu era só
eu e mais ninguém do que eu e fosse outro.
Nem há ninguém, tampouco capaz de as descrever e passá-las à
imortalidade no documento ou na expressão de qualquer arte. Elas são, por
natureza, insusceptíveis de reprodução, imortais como a alma da minha terra, a
chama viva e infinda que perpetuará Angola pelo decorrer afora dos séculos.
Angola não morrerá enquanto as noites da minha terra forem as noites de Angola!
Neste Portugal do Continente, a noite é triste e fria, com uma
chuva choramingas pingando horas afio nos vitrais da minha janela. A tarde é
parda, a noite escura, a manhã sem sol - e não há vida, nem poesia, meu amor,
porque a vida, a poesia e a beleza sentem-se na noite que é noite ou sabe ser
noite! – E as noites da Metrópole não são noites, porque não têm vida, beleza
nem amor – não têm nada sem ser chuva ou tristeza".
Lisboa 1958.