segunda-feira, 22 de abril de 2013

A VERSÃO CONSPIRATIVA



“ A novela arrasta-se sem fim. (…). Os líderes parlamentares dos dois partidos têm conversado sobre o assunto – até recentemente, na sequência do enésimo protesto de Nascimento Rodrigues – mas fumo branco é que nem vê-lo. (…) O impasse dá um péssimo exemplo à Administração Pública. Se os políticos remetem a questão para o baú dos pendentes, apesar de Nascimento Rodrigues insistir na premência de passar a pasta, porque tem a Administração Pública de dar resposta aos requerimentos do Provedor, que tantas vezes olha de soslaio e encara como um intrometido?
Nascimento Rodrigues, é justo reconhecê-lo, levou a peito a independência que o sistema proporciona ao cargo, aliás na esteira dos seus antecessores. Exerceu funções como efectivo defensor dos cidadãos, doesse a quem doesse. Não concentrou exclusivamente esforços na correcção de abusos cometidos por serviços públicos; usou até ao limite os instrumentos de intervenção que a lei lhe confere, chegando a penetrar em domínios que já se encontram na fronteira da esfera política. Desferiu, por exemplo, um fortíssimo ataque ao Estatuto Político-Administrativo dos Açores. (…) O estatuto, é sabido, recolheu inicialmente o beneplácito de todo o espectro parlamentar. (…) É por isso legítima a suspeita de que socialistas e sociais-democratas andam a encanar a perna à rã não porque desejem encontrar uma personalidade forte para tomar o lugar de Nascimento Rodrigues, mas precisamente pelo contrário. (…). Na versão conspirativa, enquanto o pau vai e vem esvazia-se o cargo de prestígio (e talvez mesmo de eficácia). Numa versão mais benigna, mantem-se o dossiê em banho maria para que Nascimento Rodrigues – refém que é de estratégia alheia – sinta que a cada dia que passa se perde mais uma fatia da dignidade institucional do cargo.(…)”
Excerto do artigo, “Um provedor fora de prazo”, de Paulo Martins, chefe de redacção adjunto do Jornal de Notícias
In “ JN 29 de Março de 2009