quarta-feira, 24 de abril de 2013

NUNCA TOMBAREI LUTANDO


Houve um tempo em que tudo era possível. Desse tempo recebemos uma mensagem codificada, um texto, que nos permite entender a tranquilidade com que viveu os dias do fim. Homem de sonhos, de projectos, de ideais. Político inteligente, Pai preocupado, Avô orgulhoso, Homem com H grande. No seu interior, uma alma Jovem, livre, independente, com valores, com regras de conduta, que acreditava nos homens e no futuro. Vamos ler. O Henrique tinha 18 anos.

Eu irei contra tudo e contra todos os que me quiserem pôr ou me puserem obstáculos, até alcançar o que quero.
Se um dia tiver uma desilusão acerca das minhas capacidades, eu não ponho limites ao que posso fazer; gastarei o que valho (e sei que algo valho!) até mais não poder, até ou rebentar comigo… ou rebentar com os outros. Tenho plena consciência do ponto até onde posso, e sou capaz de ir; quero lá chegar calmamente, sem deixar de ser o que sou, leve ou não muito tempo. Lutarei, tombando; mas ponho de parte a hipótese de tombar, lutando, porque parto do princípio que, se eu tombar, me erguerei de tal forma que nunca mais tombarei – antes farei os outros tombar diante de mim!
Eu sei o que quero de mim próprio e dos outros; só não posso conceber que me ataquem no meu orgulho. Sou demasiadamente cioso da minha personalidade para o admitir a quem quer que seja. Neste ponto nem sequer meço as consequências dos meus actos. Eu teria vergonha se me deixasse vencer; deixaria de ser eu, pura e simplesmente.
Não há nada que custe mais do que os ideais prosseguirem… e nós ficarmos pelo caminho.
Tenho em mim uma força que é superior a mim próprio. Mas, se com quase 18 anos eu não pensasse assim, que me sucederia no amadurecer da vida? É melhor ser como sou; quando as desilusões vierem em massa, a minha força de vontade ficará abalada, mas sobreviverá; se, hoje, ela não fosse tão grande, nessa altura desapareceria!”
Lisboa 1958