quinta-feira, 11 de abril de 2013

NO REGISTO DO CÉU


Domingo, 11 de Abril de 2010, foi o teu último dia de vida. Foi há muito? Há pouco tempo? Só sinto o hiato, a ausência. Não o tempo. Sinto os sonhos, as angústias, os fracassos, os sucessos. As memórias e a saudade. As escolhas e as renuncias. Releio uma das primeiras cartas que me escreveste.  Tu, estavas ainda em Angola. Eu, preparava-me, em Coimbra, para o exame de aptidão à Faculdade de Medicina.
Angola 19 de Setembro de 1957

Terminei há três dias os meus exames de aptidão à Faculdade. Francamente, não me correram bem, e, como se tanto não bastasse, ainda li no jornal que o maior número de reprovações nos exames de admissão em Lisboa, se verifica precisamente em Direito. Tudo isto me atemoriza um pouco. Reprovar agora, depois de ter ficado com média 15 no 7º ano! Enfim, esperemos com calma e fé nos resultados que só devem sair lá para Outubro.
Sigo viagem no “Uíge” juntamente com a Maria Helena, e com mais malta de Sá da Bandeira e Luanda. Que saudades eu já sinto. Creio que deixo em Angola todos os meus sonhos e esperanças de rapaz! Tenho a impressão de que me não adaptarei à vida social Lisboeta, o que me custa imenso, pois necessito, de qualquer modo, de vir a criar ambiente para o meu curso. Vai ser difícil! Em Direito, segundo informações que me têm dado, é necessário, sobretudo saber falar e escrever bem, e usar de diplomacia. E se à primeira condição eu posso dizer que estou apto a enfrentá-los, já o mesmo não acontece para a segunda, por causa deste meu feitio abrupto e demasiadamente sincero. Veremos, contudo, se eu consigo captar a excelsa simpatia da Faculdade de Direito não logo no 1º ano (se eu passar) mas lá para o 2º ou 3º, embora tal me custe.
Sabes  bem o que são vésperas de partida e por aí deduzirás o estado, não só de espírito como de tempo em que te estou a escrever.”

(Re)escreverias mais tarde: