sábado, 18 de dezembro de 2010

“Crónica do Natal”-1

Foi há muitos anos…
José e Maria estão sós na pequena gruta rochosa, aguardando confiantes e comovidos.
Uma estranha quietude assola o refúgio sagrado, transbordando paz e sossego pelas redondezas, pelos solitários caminhos da Judeia, alcançando-se até longe, num manto de pureza e castidade.
Miríades de estrelas fulgentes cintilam no firmamento escurecido, derramando do alto uma profunda e consoladora serenidade, impregnada de odores quentes de amor.
De longínquas terras desconhecidas vêm cavalgando camelos, três poderosos reis do oriente, para adorar o Messias, enquanto guia invisível lhes aponta o caminho a percorrer.
Acocorados junto às fogueiras, os pastores cabeceiam de sono, a fonte cansada apoiada ao cajado de madeira; ao lado em requebros de harmonia graciosa as chamas alteiam-se no escuro da noite, bruxuleando em paradas garridas.
Eis que no silêncio do ambiente se eleva um coro divinal, enquanto a voz misteriosa do arcanjo se faz ouvir para anunciar o nascimento do filho de Deus: “Alegrai-vos porque na cidade de David nasceu o Salvador”. E, assombrados, tiritando de frio, os pastores se ergueram do chão, rumo à estrebaria, que fora o rendado berço do menino - Deus.
Por sobre a terra adormecida um cântico maravilhoso de graças e louvores se espalha levando às almas atribuladas a doce esperança há tanto desejada. E já no estábulo, escondido entre as palhas duma mísera manjedoura, está deitado Cristo, pobre e humilde, carinhosamente acalentado pelo bafo do boi e do jumento, eternas testemunhas da mais sublime virtude.
Foi assim há quase dois milénios….