segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Natal do Meu Sertão – 2

Dia 24 é de romaria na faina. Rua fora, de porta a porta vão-se as gentes à troca dos votos da data. Aproveita-se para coscuvilhar a casa do vizinho e mirar-lhe o ornamento, enquanto, entre os mais chegados no convívio, se ofertam os brindes de ocasião.
No geral, é a árvore, ajoujada de bolas e penduricalhos afins, o símbolo mais trabalhado e o que se percebe em maior número. Reminiscência pagã, o certo é que a árvore de Natal penetrou fundo no sertão e é agora rotineiro encontrarmo-la a um canto da sala rebrilhando à luz de velas ou de lâmpadas multicolores algumas mesmo, verdadeiros cachos de fantasia sobre o alcatrão do negrume.
Mas o presépio tem também seu reino.
Há-os dos pequenos tugúrios com os três personagens centrais, o boi e o jumento até aos que ocupam metros de espaço, alcandorados com erva do mato, figuras gigantes, riachos fingidos, caminhos de areia no seio colorido de um mundo de figurantes.
É nos pratos de mesa e seus complementos, porém, que de lar para lar são mais notórias as diferenças. E isto porque o minhoto não recua com o arroz de polvo, o lisboeta torce pelo bacalhau babado de azeite e o algarvio não dispensa a sua lampreia de ovos, os figos e os condimentos usuais da terra das amendoeiras. Vai daí, a existência dos cambiantes aludidos, quando se topam as mesas vestidas das melhores toalhas e a refulgir de candelabros.
É provável que o significado transcendental do festejo não tenha entrado lucidamente na mor parte da cachimónia do preto não civilizado. Tal não é impedimento. Semanas antes da grande noite, já eles andam com a lição decorada e, “Boas Festas patlão”, ai do que não corresponder com a respectiva gorjeta ou o garrafão de tinto. Iguaizinhos na pedinchice aos carteiros da Metrópole…
PS A árvore de Natal é a mesma. A preto e branco Henrique Avô. A cores Henrique neto O presépio tem 45 anos . Os três Reis Magos são mais jovens. Só têm 40 anos