sábado, 4 de dezembro de 2010

SAUDADE


A saudade é mesmo a saudade…
Inevitável

Nasce dentro de nós como uma flor
mas depois cresce e lentamente
e parece tão somente uma ligeira dor.

Mas com tempo fica enorme e está presente
em tudo que queremos e fazemos
e em tudo que tocamos e pensamos
mesmo quando parece estar ausente.

Está na aurora azul que contemplamos
e nos poentes em que anoitecemos
Está na paisagem urbana que vivemos
a qual insensivelmente comparamos .

Está no sabor do prato que comemos
na música que às vezes recordamos
cresce dentro de nós que envelhecemos
e punge nesta dor que suportamos.

Ela estraga os nossos momentos de alegria
com lembranças de outrora já esquecidas
e está presente nas coisas mais queridas
como uma coisa triste inerte e fria.


E cresce devagar e se acaso pensamos
que no fim dos tempos a vencemos

Sempre demonstra que afinal nos enganamos
e vem de novo e logo estende os ramos
e bem depressa enfim nos convencemos
que já sabemos que afinal nos enganamos…

A saudade é mesmo saudade.
Inexorável

In “Obra Poética de Neves e Sousa” 1977