segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Natal do Meu Sertão - 1

Eu nasci numa vila do sertão angolano, onde não medra o imbondeiro, mas farfalham as mulembas de porte maduro. Havia um rio, lá em baixo, e uma casa de bomba o dia todo a bufar rolos de fumo e ais de cansada. Riba a cima marinhava à compita o matorral onde à socapa, por via da tabuleta proibitiva, se palmavam os pinheiros que serviam de cabide aos arrebiques do Natal.
Era a festança moldada de antemão, matutados os preparos a um ror do dia em causa. Que não falta material lá na planura distante, onde só desce avião uma vez por semana…
Os géneros, é verdade, encarecem com a taxa da lonjura e a sobrecarga do lucro; arribam ao sertão meio depauperados de tão longa caminhada, mas, mal despontados à janela das montras, não há mãos que os meçam a retalho. Rico ou pobre, todo o Mundo comemora o nascer do Deus-Menino e sua a poros por amontoar aquilo que lhe era de hábito no solar beirão ou na casita alentejana.
Nós, os angolanos nados, não temos tradições especiais a respeitar neste quadrante salvo as que advêm do uso universal. Mas não assim quem, nascido no”Puto” se atirou aos trópicos no ganho da vida. Não admira, por isso, que cada casa porfie no arranjo à moda do seu torrão – quando não estão olvidadas pelo tempo as praxes do lar natal…