quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Preludio

Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra, desce com ela…

Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guisos,
nas tuas mão apertadas.
Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.
Mãe_negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro…

Tem voz de noite, descendo,
de mansinho, pela estrada…
Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?...

Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?...
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?...

Mãe –Negra não sabe nada…

Mas ai de quem sabe tudo,
com eu sei tudo Mãe-Negra

Os teus meninos cresceram,
e esqueceram as histórias
que costumavas contar…

Muitos partiram para longe,
Quem sabe se hão-de voltar!...

Só tu ficaste esperando
mãos cruzadas no regaço
bem quieta bem calada.

É tua a voz deste vento,
desta saudade descendo,
de mansinho pela estrada…

Poemas de Alda Lara Lisboa 1951