quarta-feira, 10 de agosto de 2011

HUMPATA, TCHIVINGUIRO E BRUCO.

Fui passar o fim de semana a uma fazenda que uns amigos têm a cerca de 80 km daqui, no sopé da Chela, mas do lado de lá. Saímos à tarde e lá fomos pela Humpata, Tchivinguiro e Bruco. O Bruco é das coisas mais espantosas que tenho visto em Angola. Não há palavras para descrever aqueles precipícios, aquelas serras, aquela vegetação toda! Muitíssimo superior à Tundavala. Mas sem comparação! É qualquer coisa de primitivo, de bruto mas ao mesmo tempo portentoso. Basta dizer que atravessar o Bruco só de jipe e com reforço. De outro modo é impossível. Vale a pena o sacrifício e o perigo daquele caminho cavado positivamente na rocha para ver uma das paisagens mais deslumbrantes que se pode olhar. O Bruco merecia ser conhecido por todo o mundo e não ficaria nada a dever aos “Canyons” dos E.U.A. Tanto à ida como à volta não pude filmar bem, pois já era ao entardecer, mas talvez lá voltemos um destes fins de semana e então filmarei melhor. Passado que foi o Bruco andamos mais uns km até chegarmos à fazenda. Também gostei mais deste tipo de fazenda do que das fazenda do Norte. Talvez porque agora se dá mais valor à terra e aos seus recantos de paz e tranquilidade; talvez porque a paisagem seja de facto mais bonita do que a do Norte – o certo é que me senti imensamente feliz por me proporcionarem este passeio. Assim que chegamos fomos para a varanda da casa, estiraçamo-nos em cadeiras de baloiço e, com uma cerveja na mão e o rádio a tocar baixinho, ali ficamos a apreciar as serras que circundam a fazenda e a ver o luar a despontar. É lindíssimo.

Havia paz, silêncio, beleza. Há muito tempo que não sentia esta Angola, há muito tempo que não encontrava nada de parecido. Nem nos mexemos das cadeiras! Para quê? Momentos assim são raros. Uma grande varanda, um silêncio quase absoluto, um luar deslumbrante e as montanhas ao longe! Sobre tudo a tranquilidade, o cantar dos grilos, os pequenos ruídos do mato. Enfim, acabamos por ter de ir jantar e foi lautamente – o velho churrasco com batatas fritas! Depois, demos uma batida pelo mato à procura de caça. Não atirei. Também não tive pena, porque com aquele luar enorme, a caça avistava-nos de longe e fugia.

Sá da Bandeira 27 de Agosto 1961

Imagem -Mulher da Humpata