Fui com a minha mãe à procissão. Fomos a pé até à Senhora do Monte. Estava bastante calor e era um grande estirão, não obstante só nos termos incorporado em frente da nossa casa, ou seja, ao pé da Pousada Turismo. Gostei imenso da procissão, sobretudo pelo significado que revestia, e que era o de se pedir à Virgem a paz para Angola. Quando chegamos lá acima à capelinha, tocaram a marcha “ Angola é Nossa”; vieram-me as lágrimas aos olhos, porque na procissão íamos pretos e brancos e mestiços e tudo em redor em paz; lembrei-me do Norte… lembrei-me do futuro… e senti tanto como o mundo por vezes é ruim. Porquê em Angola toda não havia a mesma paz? Não, não há.
Pelo contrário, as perspectivas, são más. Outro dia foi assassinada na Humpata uma senhora branca; ontem foi morto um contínuo preto das O.P. e que nos era fiel. Serão indícios? Na Rodésia do Norte, com já deves ter ouvido nos noticiários, eclodiu também uma onda de terrorismo e nós temos fronteiras com ela… No dia em que essa fronteira for violada não sei o que poderá suceder. Por seu turno a Niassalandia quer separar-se da Federação das Rodésias e constituir-se em país de negros exclusivamente. Ora a Niassalandia entra como uma flecha pelo território de Moçambique. Seja como for, cada um tem de empregar todas as suas forças no seu trabalho. Nós no estudo, os soldados na luta os operários no trabalho – todos têm que cumprir.
Sá da Bandeira 13 de Agosto 1961
Imagem- Lubango, Raparigas com flores