1961 foi o ano do início da Guerra Colonial em Angola. Muito do que o Henrique escreve, nesse ano, durante as férias “grandes”, está, como não podia deixar de ser, ligado aos acontecimentos da região norte de Angola, desencadeados pela UPA de Holden Roberto.
"Hoje fui fazer uma “visita” a uma cadeia, onde estão presos 230 pretos acusados de prepararem no Sul acontecimentos terroristas. Deu-me na cabeça ir vê-los… e fui mesmo. Não calculas a impressão que me causou a visita à prisão. Primeiro, apanhei um susto formidável porque entrei, com o aspirante, numa das celas onde estavam 150 pretos, e, nem sequer íamos armados… Só depois de sair é que verifiquei que tinha sido uma imprudência da nossa parte. Depois, eu nunca tinha visitado uma prisão e aquele amontoado de homens, sem as menores condições de higiene e comodidade, chocou-me. Fiquei a pensar no porquê deste mundo assim, em que os homens precisam de se matar uns aos outros. Gostava de perguntar a cada um daqueles presos porque razão nos queriam matar, gostava de perguntar-lhes se eles não compreendem que os homens devem viver em paz. Quando saí estava triste. Olhei em volta e vi Sá da Bandeira dormindo, a noite calma, o silêncio em redor.
E foi tão flagrante a ideia da morte, que eu fiquei com medo. Medo… todos temos mas é preciso dominar o medo dominar-nos a nós próprios, vencer. Temos que estar consciencializados, temos que lutar pela vida, porque em todas as partes do mundo os homens lutam permanentemente, e nós precisamos de nos habituar.
Talvez o mundo de amanhã seja um mundo melhor, mas não o será por certo, se nós não dermos o nosso contributo, e esse contributo requer estudo, vontade e fé.
Todos nós temos uma missão a cumprir.
Sinto que só poderei ser um homem útil à minha terra e à humanidade se estudar, se me consciencializar, se me dominar e se desejar ser alguém. "