sexta-feira, 5 de agosto de 2011

LUBANGO 1960

Cá estou é verdade… e nem sei o que dizer-te de tudo quanto sinto, mas é uma grande saudade o que me invade: saudades dos meus tempos de criança, onde tantas coisas boas vivi, saudades da minha capa, saudades… eu sei lá! Tenho vontade de fechar os olhos e pensar que, ao abri-los, eu estou a sair lá de cima, de casa do Administrador, e virei por aí abaixo, garoto sonhador….

Quanto eu daria para poder voltar a sentir tudo quanto ficou irremediavelmente para trás! Oh, sim, queria estar de novo vestido de capa e, depois, sair ao “deus-dará” por essas ruas poeirentas (agora asfaltadas!), sem rumo, só para sentir a noite, olhar a lua, sonhar e reviver! Mas não: o tempo passa, tudo passa afinal.

O destino encarregou-se de pôr as coisas como elas deviam ser!! Isso não impede, porém, que eu tenha saudades: saudades do que senti: aquilo que hoje não posso sentir. E o que é? Fico a pensar no que tanta falta me faz. Não sou feliz? Que ideia! Não pode ser isso. Ah!, não, há uma coisa que não volta mais: é a meninice. Sim, disso é que eu tenho saudades e pouco importa saber que hoje eu sou mais feliz do que ontem.

A meninice… essa ninguém ma pode voltar a dar! E tudo isso ficou para trás… Olhei outra vez os sítios onde vivi, onde senti, onde pensei, e tudo está diferente, até eu talvez o esteja. Não, é bem verdade que o tempo não perdoa.

Não mais há-de viver aquela criança que eu fui, não mais há-de passar por estas ruas aquele moço com a cabeça cheia de sonhos. Dissemos adeus a Sá da Bandeira quando daqui saímos: foi um adeus para sempre.

Sá da Bandeira 27 de Agosto 1960