Hoje é Domingo e foi aqui um Domingo igual aos outros. Acabei de dar a crónica voltinha de carro. Subimos a rampa até quase à capela da Nossa Senhora do Monte. É a primeira vez que vejo Sá da Bandeira à noite iluminada. É realmente bonita, vista assim. Parece maior e deve ser uma das cidades mais bem iluminadas de Angola. Quando rebentaram os acontecimentos no Norte, o Governador decidiu iluminar os arredores da cidade. Ficou assim beneficiada a terra, quer sob o ponto de vista estratégico, quer estético. Como vês as notícias são poucas. Passo o dia a estudar e a ler. Assisti a um colóquio sobre problemas ultramarinos e também a uma conferência do Paulo Cunha.
Ao ouvi-lo tive vergonha de saber tão pouco sobre os assuntos que dizem respeito a Angola, tive vergonha de estudar tão pouco, não só Direito, mas tudo, tudo, porque se Deus nos deu qualidades, é um crime desaproveitá-las.
Gostava de ser mais estudioso, mais culto, mais… sei lá, o que sei é que tenho de trabalhar, imenso para ser alguém.
Comecei a trabalhar num ensaio. A minha tese é provar com argumentos sérios e não apenas sentimentais, que os negros não são autóctones de África, mas, sim, invasores, tal como os brancos, portanto. Nesta medida, não é legítimo que a África seja só para os negros.
Falei com o nosso antigo professor de História sobre isto e ele concordou inteiramente comigo e ficou todo entusiasmado com a ideia. Emprestou-me uma série de livros, (em francês), sobre a pré – história de África, que me vão dar muito trabalho para os ler, mas eu gostava de fazer um trabalho bem documentado. Não achas que a tese é aliciante?