São estes os factos que estão na base dos dois textos que editaremos de seguida.
No Norte, as coisas ainda estão muito feias, mas operações militares parecem estar decorrendo satisfatoriamente, embora de vagar.
Envio-te um jornal para poderes fazer uma ideia da situação em Carmona.
Entusiasmaste-te muito com a tomada de Nambuangongo e Quipedro. É uma importante vitória militar, e também psicológica, mas olha que não nos devemos deixar levar por optimismos. Esta guerra, ao que ouço dizer, vai durar ainda muito tempo e só Deus sabe se ela chegará a ter um fim bom e honroso.
É verdade que a situação tem melhorado gradualmente, mas o estado de revolta é quase total e os problemas são gravíssimos. Quem está de Luanda para baixo vive como antigamente, mas o Norte dizem-me está despovoado de indígenas, a colheita de café só atingirá 10% (10%!!!) e nem o problema nº1- o militar parece poder ter uma solução a curto prazo.
Os terroristas adoptaram agora a táctica do "aparece-desaparece" e as tropas nem lhes põem a vista em cima.
A verdade é que ninguém com quem tenho falado consegue apresentar um plano satisfatório. E, depois, o meu grande receio é de que o ódio já se tenha entranhado entre as raças. Se isso aconteceu, ou se isso acontecer, então é bem certo que não há solução possível. Ainda recentemente foi morto um chefe terrorista, de etnia bakongo, – Teta Lando- que possuía uma fazenda de café, conta no banco e automóvel descapotável. A sua situação económica era, portanto, melhor que a de centenas de brancos. Porquê então terrorista? Eu penso que é só por ambição e ódio racial. E quando as revoluções se fazem na base destes sentimentos, a guerra é interminável e injusta. Muitas vezes tenho pensado na razão, pela qual, os pretos estão virados contra nós com um ódio tão entranhado. Eles têm sofrido derrotas formidáveis e nem assim se compenetram de que lhes convêm renderem-se. Enfim o futuro dirá."
25 de Agosto 1961.
Imagem- Povo Banto do Norte de Angola