segunda-feira, 15 de agosto de 2011

NAMBUANGONGO E QUIPEDRO

Em 15 de Março de 1961, a UPA/FNLA assalta e queima povoações e fazendas no Norte de Angola. Actos de verdadeiro terrorismo, não poupam civis, crianças, europeus ou africanos, mulheres ou idosos. Em nenhuma dessas localidades existia guarnição militar. A reocupação do Norte inicia-se pois com os efectivos existentes, mais o reforço de 3 companhias. Em Abril desse ano, Oliveira Salazar, que passa também a titular a pasta da defesa, lança a célebre frase”- para Angola rapidamente e em força”- . O resto da história é conhecida.

São estes os factos que estão na base dos dois textos que editaremos de seguida.

"Luanda pareceu-me uma cidade calma. Aparentemente, tudo na mesma, apenas, claro, certo movimento a mais de militares, mas todos desarmados,

No Norte, as coisas ainda estão muito feias, mas operações militares parecem estar decorrendo satisfatoriamente, embora de vagar.

Envio-te um jornal para poderes fazer uma ideia da situação em Carmona.

Entusiasmaste-te muito com a tomada de Nambuangongo e Quipedro. É uma importante vitória militar, e também psicológica, mas olha que não nos devemos deixar levar por optimismos. Esta guerra, ao que ouço dizer, vai durar ainda muito tempo e só Deus sabe se ela chegará a ter um fim bom e honroso.

É verdade que a situação tem melhorado gradualmente, mas o estado de revolta é quase total e os problemas são gravíssimos. Quem está de Luanda para baixo vive como antigamente, mas o Norte dizem-me está despovoado de indígenas, a colheita de café só atingirá 10% (10%!!!) e nem o problema nº1- o militar parece poder ter uma solução a curto prazo.

Os terroristas adoptaram agora a táctica do "aparece-desaparece" e as tropas nem lhes põem a vista em cima.

A verdade é que ninguém com quem tenho falado consegue apresentar um plano satisfatório. E, depois, o meu grande receio é de que o ódio já se tenha entranhado entre as raças. Se isso aconteceu, ou se isso acontecer, então é bem certo que não há solução possível. Ainda recentemente foi morto um chefe terrorista, de etnia bakongo, – Teta Lando- que possuía uma fazenda de café, conta no banco e automóvel descapotável. A sua situação económica era, portanto, melhor que a de centenas de brancos. Porquê então terrorista? Eu penso que é só por ambição e ódio racial. E quando as revoluções se fazem na base destes sentimentos, a guerra é interminável e injusta. Muitas vezes tenho pensado na razão, pela qual, os pretos estão virados contra nós com um ódio tão entranhado. Eles têm sofrido derrotas formidáveis e nem assim se compenetram de que lhes convêm renderem-se. Enfim o futuro dirá."

25 de Agosto 1961.

Imagem- Povo Banto do Norte de Angola