sábado, 20 de agosto de 2011

O MEU COLEGA ADVOGADO

Outro dia estive a falar com um colega meu, advogado bastante novo ainda. Estivemos a conversar sobre o curso e a profissão. Disse-lhe que de princípio queria entrar para a magistratura e ele esclareceu-me o assunto. Se é verdade e correcto o informe, as coisas serão assim: acabado o 5º ano, requeiro a minha entrada como Sub - delegado em qualquer comarca da Metrópole. Estarei nessa situação a praticar durante 6 meses sem vencimentos. Acabado esse tempo, vou a concurso – se os houver - e desde que seja aprovado no concurso e haja vagas entro como delegado. No caso de conseguir colocação em Angola – presentemente, isso é muito fácil, pois há 6 comarcas vagas – entro a ganhar cerca de 8 contos, com casa do Estado.

Achei tão maravilhoso que nem acredito ainda! Claro que é necessário que eu seja aprovado no concurso com nota razoável, e, sobre tudo que haja vagas em Angola, e consiga a minha colocação aqui. Sei que presentemente isso é fácil, mas também me lembro que vamos desencadear todos os esforços para normalizar Angola, e, nesse caso, a existência de vagas na magistratura é incompatível com esse desejo. É mesmo uma das coisas que está a acarretar críticas severas essa inexistência de delegados em 6 comarcas. Mas, enfim, se a sorte estiver do nosso lado, pode ser que eu cá venha parar e o ordenado de 8 contos é “qualquer coisa”para começo de vida.

Eu só peço a Deus que me dê trabalho e trabalho que seja remunerado dignamente. Sei que na Metrópole estão advogados recém-formados a vegetar com 1.500 a 2 contos por mês e só essa lembrança me aterroriza. Meu Deus, não podemos perder Angola! Creio que eu não seria eu, se tivesse que trabalhar na Metrópole. Depois de 4 ou 5 anos na magistratura, saio e vou advogar por mim. Em Sá da Bandeira por exemplo há uma espantosa carência de advogados.

Nem quero pensar nisso!!! Não sei mas depois desta conversa, até comecei a estudar com força redobrada! Não quero pensar evidentemente em perdermos Angola.

Sá da Bandeira 20 de Agosto 1961