terça-feira, 6 de dezembro de 2011

É DISSO QUE O PAÍS ESTÁ À ESPERA

"Os problemas laborais são tão importantes na vida de qualquer País que merecem um autêntico debate público, a começar pelos próprios parceiros sindicais e patronais. Qual a fronteira básica das soluções concretas a adoptar, face ao diagnóstico da situação?

Uma revisão superficial, de retoque, poderia revelar-se como “pior a emenda do que o soneto”. E isto porque e se partirmos da convicção de que vigoram soluções jurídicas que criaram uma situação global em que se protegem, artificialmente em certos casos, interesses de trabalhadores contra a protecção que deveria ser dada a outros trabalhadores, como os desempregados, os que estejam arbitrariamente sujeitos a sucessivos e fraudulentos contratos a prazo, os que enveredam pelo trabalho clandestino, os que se vêem forçados a aceitar horários parciais e salários correspondentemente reduzidos, os jovens à procura de primeiro emprego.

Esta é a situação genérica da injustiça social, com sequelas económicas graves que, por sua vez inviabilizam ou dificultam condições de progresso e de bem estar para todos os portugueses.

A linha básica das soluções tem de ir ao fundo dos problemas e à raiz das injustiças, das desigualdades gritantes de situações, e restabelecer pela equidade o caminho da modernização, da responsabilidade de uns e da libertação de outros, do progresso social e económico. A voz da verdade nunca dói aos trabalhadores.

Exponha-se a verdade, explique-se aquilo que se pretende atingir, discutam-se abertamente as alternativas e opte-se com seriedade e lucidez. É disso que o País está à espera."

Excerto de uma entrevista ao Semanário “O Tempo” em 1 de Outubro de 1981