domingo, 4 de dezembro de 2011

EQUIDADE NA REPARTIÇÃO DE SACRIFÍCIOS


Não tenho qualquer pejo em afirmar, e sempre o fiz, que muitos empresários têm fundadas razões de queixa contra a improdutividade no trabalho, acerca da falta de qualificação e pundonor profissionais de muitos trabalhadores, contra o abuso nas faltas, etc.
Mas sejamos claros: o que se verifica também é que os empresários dinâmicos e competentes são os que menos se queixam das relações laborais.
Em contrapartida, quantas razões legítimas não têm os trabalhadores e os sindicatos democráticos? É aceitável que uma empresa invoque dificuldades insuperáveis para recusar melhores salários, e depois se verifique que os gestores andem em carros de luxo e façam despesas descabidas?
O português é muito sensível à lisura e à coerência de atitudes. É um dos valores culturais do nosso Povo e ainda bem que a generalidade dos trabalhadores preserva esse vector da identidade nacional.
Temos que fazer sacrifícios, porque o futuro do país assim o exige.
Mas se os sacrifícios forem exigíveis a uns e não a todos, de acordo com uma repartição equitativa, então não se estará face a uma política de rigor e autenticidade democráticas mas, sim, face a uma política de capitulação classista.
Um social-democrata tem de lutar contra isso. Compreender realidades económicas inultrapassáveis, sim – abdicar, não.
Excerto de uma entrevista ao Semanário “Expresso”, em 5 de Setembro de 1981