quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

OUVIR PARA APRENDER


"É uma virtude, até certo ponto, o saber retirar a tempo. Ora, quando se vê que não temos razão, outro caminho não nos deve restar senão calarmo-nos e ouvir – para aprender.
O Lisboeta não o sabe fazer. É um tipo que discute a torto e a direito e, sobre tudo, que não abdica dos seus pontos de vista, quando estes são claramente rebatíveis, quando se está a ver de maneira inequívoca, que estão errados. Já tive oportunidade de o verificar em conversas com colegas meus. É espantoso mesmo!, a teimosia crassa que eles tomam para defender os seus pontos de vista. Admiro, sem dúvida, todos aqueles que, cientes da sua cultura e do seu modo de pensar, os defendem com unhas e dentes; mas admiro, também, aqueles que reconhecem o seu ponto de vista errado. Ora o que tenho visto chega-me para concluir, talvez à priori, porque meia dúzia de casos não são suficientes para os tornar com regra geral: o Lisboeta não tem uma cultura sólida. Tem, sim, uma cultura um pouco vasta mas pessimamente aprendida, erradamente estudada e, então estupidamente defendida.
São muitos os problemas metropolitanos. Para já e antes de tudo, dois, eu acho fundamentais: o problema económico e o problema educacional. Digo educacional, de preferência a cultural, porque, antes do resto, é mister aperfeiçoar o espírito para que ele possa receber os respectivos ensinamentos. Sem ser educado o povo não pode ser cultivado. Primeiro cultiva-se a alma e só depois o cérebro."

Lisboa 1958