quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

NÃO É A IDADE QUE MATA A MOCIDADE


"O meu Natal…. É um Natal triste? Não, talvez apenas solitário. Mais solitário do que nunca, pois não há em meu redor uma cara familiar, uma terra amiga, uma coisa que me diga respeito
Tudo tem sido assim na Metrópole e é por isso que eu não gosto desta terra. Vai-nos ela embrutecendo a pouco e pouco, roubando-nos os nossos sonhos de criança, tirando-nos do peito as doces ilusões e os belos horizontes que só a mocidade pode forjar. Não é a idade não que mata a mocidade, porque eu sei, que no fundo ainda queima em mim a mesma chama de sempre; mas é esta vida sem espírito, este ambiente que é só matéria, que abafa e há-de acabar por matar totalmente a rama verde da minha mocidade. Oh, sim, eu nunca deixarei de ser novo só para mim; eu quererei sempre sonhar como outrora e ter um riso franco nos lábios;  mas não queria, também, que os milhares de sonhos que sonhava e as centenas de risos que abria, vão desaparecendo, desaparecendo, até ficarem cada vez menos. Não quero meia dúzia de sonhos – quero centenas; não quero um riso fortuito, de vez em vez, a lembrar-me que, afinal continuo um pouco criança – quero rir a toda a hora, abrir a alma ao mundo, sorver a felicidade e dizer em voz  bem alta: eu sou feliz como outrora!
Ah, mas onde estão os meus Natais? Onde estão os ternos anos da minha infância alegre?
Onde estão meu Deus? Oh, fazei que eles voltem para eu poder de novo ser eu inteiramente, de corpo e alma totalmente – totalmente, Senhor"

Fotografia- Luanda Natal de 1956 (último Natal em Angola)
Texto -Natal de 1958 em Lisboa
A árvore de Natal é a da nossa casa desde sempre.