sábado, 17 de dezembro de 2011

ESTADO PORTUGUÊS DA ÍNDIA


A 18 de Dezembro de 1961 o “Estado Português da Índia” foi invadido e anexado pela União indiana. Os jornais portugueses relatavam, (já depois de uma rendição total), a resistência heróica dos nossos soldados e da população frente aos invasores. Segundo a nossa imprensa, o número de mortos ultrapassava o milhar.
Todos os jornais foram uníssonos num relato que nada tinha que ver com a realidade dos factos.
Nesta pequena história a apreciação crítica feita pelo Henrique com o evoluir das notícias.

“Sabes que em Angola as tropas estão de prevenção? O meu Pai enche a carta toda a falar na Índia e na sua indignação pelo que se passou. Por aqui já começa o zum-zum dos boatos e das calúnias, muito embora eu concorde que a nossa rádio e a nossa imprensa estão a puxar demais ao sentimento. Não sei se leste a notícia que o correspondente francês Martin Gordon enviou acerca do contacto com prisioneiros militares em Panjim. Ele disse que calculava que em 2.500 as praças e em 200 e tal os oficiais, prisioneiros. Isto dá um total, geral, de 2.700 homens. Sabe-se que há outro campo de prisioneiros em Vasco da Gama; e sabe-se que os nossos efectivos militares não excediam os 3.200 homens. Se a notícia transmitida pela “Reuters” é verdadeira, então efectivamente nós tivemos muito poucas baixas para uma verdadeira luta. Não sei, ainda é cedo para fazer conjecturas, mas os indícios que começam a aparecer não nos são favoráveis.
Leste o “Notícias” de hoje? Diz que as nossas baixas na Índia se computava em 1018 homens. Francamente, isto é de uma pessoa ficar sem perceber patavina. Talvez fosse melhor a nossa imprensa não fazer tanto “escabeche” com a nossa resistência, pois, se se confirma o número de prisioneiros é porque a resistência foi fraca.
 Ou os jornalistas estrangeiros estão a mentir, e não se descortina a razão para mentirem acerca de um assunto tão sério, ou é a nossa imprensa que quer fazer ondas, o que é igualmente sujo. O que é certo é que na nossa época nunca se sabe de que lado é que está a verdade, tão opostas são as notícias.
Evidentemente que, quanto menos homens tiverem morrido, melhor, mas que nunca seja o caso de as nossas tropas se terem comportado cobardemente. Enfim, tido isto é aborrecido e o pior é que este mau período ainda está longe de acabar. Por quanto tempo aguentaremos? Já deves ter visto que a imprensa, de um modo geral, tem atacado a Inglaterra e a América. Acho bem, mas isso é uma atitude inútil se não passarmos para além das palavras. Pode ser que no próximo discurso do “Mestre” já se saiba algo de concreto. Mas, se nós continuarmos só com floreados, então bolas para todas estas manifestações.”

Lisboa 30 de Dezembro de 1961