quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

COMUNIDADE DE POVOS PORTUGUESES

O Henrique tinha consciência, desde muito jovem, que o Mundo que sempre conhecera, ("ensinavam aos portugueses do Ultramar que Portugal ia do Minho a Timor"), estava na rota da mudança. Não estando contra, o que é certo, é que a não aceitava a qualquer preço. Sabia o que queria. Mais tarde, em 1999, escreveria:

"Que meus pais, os pais de outros e outros ainda, fossem portugueses – nada a opor. Mas que não se atrevessem a fazer obstáculo àquilo que, para mim, era evidente – Angola independente, com negros, brancos, mestiços, católicos, protestantes, animistas. Poderíamos negociar uma comunidade de Povos Portugueses – isso era uma questão para se ir vendo."

Vamos ler um pequeno texto que o nosso Ouvidor do Kimbo escreveu, tinha então 17 anos. Estávamos no início de 1958.

“Os problemas de Angola são demasiadamente complexos para que um garoto, como eu, os possa compreender. Não sou economista, não sou político, nem sociólogo, nem entendido em assuntos tão graves – não posso, portanto, apontar defeitos com factos e remédios sem provas, mas sou angolano, sei o quer dizer Justiça e Honestidade, ensinaram-me a não me transviar e sinto dentro de mim uma fé enorme no futuro da minha terra. Se quando formos adultos, quisermos ensinar aos novos que sejam fortes e justos, necessário é que o tenhamos sido também na nossa mocidade. Angola é para mim, a primeira fonte do ressurgimento de Portugal; em muita coisa, o meu pensar diverge do dos meus conterrâneos! Mas a minha fé há-de vencer, porque também há muitos que pensam como eu e que sabem que mais vale um vencedor justo do que um injusto. Os rapazes de hoje, são os homens que amanhã vão formar uma Angola cada vez maior; para que possamos mostrar a todo o Portugal que o seu futuro e a sua força dependem de Angola, necessário é que a nossa causa seja tão justa, seja tão nobre, tão promissora e tão leal, que a Verdade – que proclamamos todos sob diversas orientações (e aqui é que está o erro!) possa ser entendida pelos surdos e olhada pelos cegos!”

Em Dezembro de 1999, num belíssimo texto intitulado o “ Fim do Império” e publicado neste blogue em Maio de 2010, diria:

“Envolvi-me nessa independência de Angola. Estudei, reflecti, fiz parte de grupos, declarei que as coisas não podiam continuar assim (mas não embarquei nas lutas de libertação, pela simples razão de que não percebi de quem se tratava de libertar – havia de libertar-se os povos negros, evidentemente, mas também os homens de cor não negra que pertenciam à sua terra. E, sobretudo, se era uma questão de liberdade, jamais se poderia colocar como se colocava, o problema em termos de comunismo versus capitalismo).”