quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

MONANGAMBA ( CONTRATADO)




Naquela roça grande não tem chuva
é o suor do meu rosto que rega as plantações:
 Naquela roça grande tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue feitas seiva.
 O café vai ser torrado
pisado, torturado,
vai ficar negro, negro da cor do contratado.
 Negro da cor do contratado!
 Perguntem às aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:
 Quem se levanta cedo? quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fuba podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares
"porrada se refilares"?
 Quem?
 Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer
- Quem?
 Quem dá dinheiro para o patrão comprar
maquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?
 Quem faz o branco prosperar,
ter barriga grande - ter dinheiro?
- Quem?
 E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:
- "Monangambééé..."
 Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo, maruvo
e esquecer diluído nas minhas bebedeiras
 - "Monangambééé..."




Poema de António Jacinto - Poeta Angolano
1924 -1991