quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

DIÁLOGO PERMANENTE NO MUNDO DO TRABALHO



“Tenho recebido os parceiros sociais:  A CGTP-IN, a Confederação do Comércio. Terei amanhã a primeira sessão com a UGT; espero que a esta, também se sigam sessões de conversação com a CIP. A posição que tenho verificado da parte dos parceiros sociais é uma posição de abertura ao apelo que fiz. É um balanço que se pode considerar positivo e esperançoso. Nós temos uma legislação do trabalho pulverizada porque foi emitida ao longo de fases diferentes do processo de democratização  do País.  As leis do trabalho são acusadas de incoerência nas suas soluções e mesmo de contradição no seu conteúdo – o que em grande parte é verdade. Por outro lado essa mesma legislação do trabalho não corresponde, hoje, às necessidades do desenvolvimento  económico e social do País. Precisamos pois de rever essa legislação. O problema é saber como. Eu não sou adepto (e penso que já afirmei publicamente) de fazer revisões das Leis do Trabalho no segredo dos gabinetes.
A minha proposta, a proposta que tenho vindo a fazer aos parceiros sociais é no sentido de criar uma comissão consultiva, onde pudessem ter assento representantes das confederações sindicais, das confederações representativas dos empresários, representantes do Ministério do Trabalho e eventualmente de outros ministérios interessados também na legislação do trabalho. Isto permitiria uma discussão concertada dos problemas. Se não tivermos essa perspectiva global e coerente arriscamo-nos a fazer revisões parcelares sectorializadas,  que  podem,  eventualmente resolver este ou aquele aspecto, mas, depois, acabam por criar problemas noutras áreas.
A proposta que acabo de fazer pode ser uma plataforma, a partir da qual, se os próprios parceiros sociais o quiserem – e sublinho com toda a clareza – se o quiserem, poderemos empreender novas formas de procurar resolver outro tipo de problemas, que não sejam apenas problemas de ordem legislativa.
No campo da democratização plena das relações de trabalho existem outras áreas que têm de passar por um certo entendimento expresso ou tácito (há entendimentos tácitos que são tão ou mais valiosos que os entendimentos expressos) entre os parceiros sociais."

 Excerto de uma entrevista concedida  ao “Jornal Da Meia – Noite” da RDP (15  de Março 1981)