domingo, 29 de janeiro de 2012

FACE A FACE SOCIAL


Durante uma entrevista concedida ao Jornal “Comércio do Porto”, e a propósito da constituição da comissão consultiva tripartida, o jornalista faz esta pergunta:
C.P. Quando fala em parceiros sociais integrantes da comissão a quem se refere?
N.R. “ À UGT, à CIP, e à Confederação do Comercio”. Foram estas as confederações que responderam positivamente, no decurso das conversações que estabeleci com todas as confederações de trabalhadores e empresários.”
C.P. Porque não participa a CGTP-IN? Acha que não é conveniente inseri-la na comissão?
N.R. “A comissão está aberta a todos os parceiros sociais. Eu não marginalizei nenhum. Se a CGTP não participa é porque entende que não é do seu interesse. O problema é da CGTP não é meu”.
C.P. Mas acha que a iniciativa tem algum valor sem a intervenção da CGTP?
N.R. “ Claro que tem! Em primeiro lugar, trata-se de uma iniciativa marcadamente democrática, uma tentativa de organização de um face a face social. Quaisquer que venham a ser os resultados finais concretos, e sejam eles de divergências ou de aproximação de pontos de vista a participação de três confederações significa que se deu um passo em frente no campo do relacionamento social. Faz-se prova de quem está, no nosso país, disponível e disposto a discutir os problemas ao redor de uma mesa de uma forma civilizada. Em normalidade democrática não se entende que a rua seja o melhor forum de debate dos problemas e que os “slogans” de propaganda resolvam o que quer que seja.
Trata-se, portanto de uma experiência que se for utilizada com empenhamento total e lúcida serenidade, pode abrir enormes  perspectivas para uma certa consensualização  social.
 E esta é a chave dada para a resolução acertada de muitos dos problemas do nosso desenvolvimento."
C.P. Mas não receia que a CGTP boicote a ideia e os resultados desta experiência?
N.R. “ Eu julgo que cada um tem que assumir, neste processo, as suas responsabilidades. Eu assumi as minhas. Os parceiros sociais assumem as suas. O nosso povo tem o direito de saber quem se recusa, e porquê, a tentar uma experiência que não tem precedentes em Portugal, mas é claramente inspirada por valores e objectivos democráticos. A participação na comissão não envolve quebra de independência antes possibilita um livre confronto de ideias. Fugir ao debate democrático e participado é que pode ser entendido como sinal de fraqueza”

Excerto de uma entrevista concedida  ao “Comércio do Porto” 7/7/1981