sexta-feira, 25 de maio de 2012

HÁ QUALQUER COISA QUE NÃO BATE CERTO



“O ciclo do processo de revisão da legislação do trabalho, a que vulgarmente tem sido dado o nome de “pacote laboral” encerra-se com a entrada em vigor do novo regime jurídico da cessação do contrato individual de trabalho e concretiza-se no Decreto- Lei nº 64-A/89, de 27 de Fevereiro”

 “ A primeira iniciativa de revisão da legislação laboral foi formalmente lançada em 1979, pelo Governo, da iniciativa presidencial, do Prof. Mota Pinto. É dessa data o primeiro “pacote laboral” submetido a discussão pública pelo então Ministro do Trabalho, dr. Marques de Carvalho. A esta primeira e frustrada iniciativa seguiram-se múltiplas e frustradas diligências tendentes ao mesmo objectivo, da autoria de sucessivos Governos, de diferente composição partidária, que se sucederam no poder desde então. E todas elas se foram frustrando também, por isto ou por aquilo, com este ou aquele conteúdo, fosse mais ou menos dialogante a metodologia intentada para as viabilizar. Eis pois a verdade nua e crua: o País consumiu dez anos para concretizar esta reforma legislativa! E a isto acresce, como é público e notório, que nem as forças sindicais, nem as forças económicas, nem enfim, a opinião pública em geral, partilham de especial entusiasmo a propósito do que, finalmente foi conseguido. Há aqui qualquer coisa que não “bate” certo. A revisão das leis laborais é uma condição, mas seguramente não a mais decisiva, da flexibilização da gestão dos recursos humanos e de modernização e progresso. Constitui todavia um dado adquirido à partida que ela deveria operar-se com o máximo equilíbrio possível, por forma a não atingir com severidade interesses sociais de estabilidade que a ossatura da nossa economia, ainda frágil como é, não poderia absorver e compensar se isso ocorresse. Será de algum modo fácil, sem deixar de ser justo, responsabilizar os sucessivos dirigentes e agentes políticos sindicais e empresariais que, ao longo destes dez anos, protagonizaram institucionalmente o enquadramento, o decurso e o desfecho deste processo de revisão legislativa. Cabe porém, perguntar: mas não fomos nós - cidadãos, trabalhadores e empresários- que os elegemos e os sustentamos no papel que exerceram? Mas não fomos também nós que, ao longo destes dez anos, pela nossa omissão ou pela nossa acção (qualquer que tenha sido, fomos co - responsáveis por este processo?.
Se em Portugal a culpa “morre de velha”, verdade é também que em Portugal a culpa é sempre dos outros.
Numa altura em que tanto se fala, justificadamente aliás, da modernização do País no quadro da integração europeia e dos caminhos evolutivos da Europa, este processo de revisão das leis laborais bem pode ficar como um símbolo e representar um alerta: o  símbolo do nosso atraso cultural em certos comportamentos colectivos que urge mudar ; o alerta para o perigo de repetirmos situações cujos custos são seguramente pesados em termos de progresso cívico e, por isso mesmo, jamais compensáveis por qualquer fundo estrutural da CEE.
Lisboa Março 1989