terça-feira, 22 de maio de 2012

PACIÊNCIA NEGOCIAL


 “Um jurista especializado em Direito do Trabalho, consultor de sindicatos antes de ser   militante partidário, que cumpriu um dos mandatos menos contestado pelos   trabalhadores à frente do difícil ministério da Praça de Londres, que insiste em termos como o diálogo social alargado, a consensualização, a concertação – eis quem o prof. Cavaco Silva procurou para restaurar alguma ordem, depois da greve geral de Março….. Chama-se Henrique do Nascimento Rodrigues, e nem sequer era contado nas fileiras dos incondicionais do primeiro-ministro.
Eleito dia 19 de Junho como vogal da Comissão Política Nacional do PSD, será uma missão difícil, precisamente para quem, como ele, não acredita no sindicalismo “correia de transmissão”; mas poucos estariam em condições de lhe ocupar o lugar. Nascimento Rodrigues não será o “comissário político” de uma espécie de “perestroika” sindical imposta de cima no PSD, mas dependerá muito do seu tacto e da sua paciência de negociador manter a coesão na UGT e conter a vertigem da tentação de formar uma terceira central.
Fala com reserva do papel que lhe terá sido atribuído, associando outros nomes ao seu o que já é revelador: “ Não tenho escondido que o meu grande desejo é que possa ocorrer uma congregação dos sindicalistas sociais-democratas, e é com satisfação que vejo que esse objectivo está a ser prosseguido, e que sindicalistas de grande importância têm dado provas concretas de que se esforçam por alcançar essa grande plataforma de unidade.”
É conhecida a sua oposição de sempre ao funcionamento de “ uma estrutura partidária com finalidades sindicais e laborais” que aliás como jurista, considera oposta, tanto ao programa do PSD, como às convenções da OIT, como ainda aos pactos dos Direitos do Homem.
“ A acção sindical deve ser distinta da acção partidária. Uma coisa são os sindicatos, outra os partidos: aquilo que se pretende é tornar muito clara esta diferença, e fazer com que as estruturas partidárias não interfiram no campo sindical, que deve ser reservado aos sindicalistas.
A minha intervenção política vem desde a fundação do partido, quando o prof Mário Pinto funcionava como braço direito de Sá Carneiro na área sindical. Comecei em 74/75 a trabalhar junto do prof Mário Pinto, de quem sou muito amigo e grande admirador, e que considero o homem que mais sabe de Direito de Trabalho”.
“É este o seu modo de se atribuir uma genealogia na complexidade das famílias do PSD.
Mas ainda antes de fazer assessoria jurídica junto de sindicatos, o jovem licenciado em Direito participou em estágios da OIT e da OCDE, chegando a ser, mais tarde, o representante do Governo português no Conselho de Administração da OIT, além de ter realizado, como técnico da OIT em matéria de legislação laboral, várias missões junto de países africanos de expressão portuguesa. Ocupa hoje o cargo de director do Gabinete de Cooperação com África, no 15º piso do Ministério do Emprego”.
IN “ O Jornal” 8 de Julho 1988