terça-feira, 12 de junho de 2012

AINDA O DISCURSO DO PRESIDENTE


Após a eleição, faz um discurso em que se debruça em primeiro lugar sobre os problemas do mundo nesse ano de 1992. Afirma que “à democracia parlamentar e ao multipartidarismo deve estar associada a livre manifestação e a articulação concertada dos diferentes interesses colectivos que brotam da vida social”
E continua:
“ O tripartismo não é mais do que a transposição para o domínio das relações sociais dos princípios fundamentais da democracia política: liberdade, pluralismo, participação dos interessados nas decisões que os afectam. Não se pode falar de tripartismo onde não existam organizações sindicais de trabalhadores e de empregadores livres, independentes, fortes e representativas.(…)
A história demonstra-nos como o sindicalismo foi, em tantas ocasiões, um baluarte da liberdade e um motor da justiça social. Ao longo do seu percurso, esteve sujeito a recuos e avanços, confrontou-se com adversidades enormes e também alcançou vitórias relevantes (….)
 Não partilho, todavia, a opinião de que se deva falar de crise do protagonismo sindical. Penso que é mais apropriado constatar-se, apenas, que os sindicatos – tal como acontece com as diversas organizações da sociedade – viram-se confrontados com problemas e emergências graves, para cuja resposta precisam de tempo de adaptação e capacidade de inovação. É sempre importante, em todo o caso, que os sindicatos sejam verdadeiramente independentes, quer do Estado, quer de outras organizações de natureza e funções diferentes. (….)
O Estado democrático, por seu turno, não pode deixar de garantir a liberdade sindical e o direito de livre negociação colectiva, quer no plano da lei, quer na realidade dos factos.(…..)
 Parece salutar, todavia, o princípio de que o Estado deve deixar o campo mais vasto possível para negociações bilaterais, seja qual for o nível em que se desenrolem. (….)
A negociação colectiva e a concertação social tripartida não são, porém, métodos fáceis, nem processos de maturação rápida, e não se apresentam sob modelos uniformes(…)
Mas também a democracia não é, e nunca foi, senão um sistema de lenta, penosa e difícil construção de uma ordem política, económica e social mais livre e mais justa. Não está nunca definitivamente conquistada, senão através da tolerância, do diálogo, do esforço permanente de compreensão e de busca de soluções comuns.
Isto é igualmente válido para a concertação tripartida. (….)
Não é vantajoso retardar ou bloquear as transformações socioeconómicas porque, a prazo, os custos serão mais pesados. Mas é necessário, em contrapartida, consensualizar as transformações julgadas úteis. A concretização desse entendimento entre governos, sindicatos e empregadores restabelece os equilíbrios, relança a confiança colectiva e gera impulsos decisivos para o desenvolvimento.(…)
Se não acreditamos na capacidade do Homem, em que devemos então acreditar? Falo do homem não em sentido abstracto, mas no Homem concreto, cuja dignidade essencial é igual em todo o lado, seja pobre ou rico, culto ou analfabeto, religioso ou ateu, homem ou mulher.
Essa dignidade só é atingível no respeito integral pelos direitos do homem. Estes direitos são não apenas políticos, mas também culturais, económicos e sociais. (…)
Permitam-me, assim, que termine expressando-vos a minha convicção de que a democracia não é um “bem de luxo ”, próprio para consumo de países ricos. Cada homem e todos os homens têm direito à liberdade e à justiça social. Onde elas existirem, haverá paz na consciência dos homens. Mas enquanto não reinarem por todo o mundo, não poderemos ficar indiferentes”.
Genebra 3 de Junho 1992