sexta-feira, 22 de junho de 2012

ÉTICA NOS PRINCÍPIOS… ARTE NOS COMPROMISSOS


“ (….) Constata-se que o Estado democrático moderno se vê crescentemente confrontado com a necessidade de dar resposta cabal aos interesses gerais da Nação, através de actuações cada vez mais complexas, delicadas e de trabalhosa articulação. (…)
O Estado só tem vantagens em escutar, dialogar e concertar com a sociedade civil as medidas económicas e sociais cujo alcance abranja e cujo alcance atinja vastos sectores da população. A sociedade civil por seu turno, também só tem vantagens em fazer-se escutar pelo estado e em procurar influenciar as medidas públicas que concernem a interesses sectoriais. E de tudo isto resulta a necessidade de concertar posições, de articular interesses e de consensualizar soluções, o que exige ética nos princípios e arte nos compromissos.
Nesta teia tão complexa de objectivos, neste cenário tão delicado de posicionamentos e nesta cadeia tão multiforme de actores sociais – é verdadeiramente decisivo que cada um e todos venham e estejam no CES com o espírito aberto ao diálogo e à percepção de que o bom caminho não deve desembocar nem no estatismo, nem no confronto atroz e permanente dos egoísmos sectoriais. (…)
Em todo o caso, e exactamente porque a concertação social entre Governo, confederações sindicais e patronais alcançou nos últimos anos um grau de concretização meritória, é justificado que essa prática seja preservada ciosamente e que nela se procure, até, inspiração extrapolável para o diálogo social alargado que o CES deverá polarizar. (…)
O que é verdadeiramente digno de registo é que a especificidade de estatuto atribuído à “Comissão Permanente da Concertação Social” tenha sido reivindicado pelos próprios parceiros sindicais e empresariais, numa salutar manifestação da sua autonomia colectiva. (…)
Erram aqueles que não entendem constituir a concertação social tripartida um verdadeiro triunfo da Democracia e um instrumento magnífico para impulsionar a economia e fazer avançar a justiçar social. Exactamente porque a economia de livre mercado não se identifica com a lei da selva ou com a prepotência dos fortes, ela pressupõe sempre uma justa dimensão social. Não é possível emprestar-lhe esta dimensão sem a interlocução e o responsável protagonismo sindical. Da mesma forma, as organizações sindicais apercebem-se que não há distribuição possível de riqueza  ou possibilidade de criação de empregos sem verdadeiros empreendedores e sem empresas sãs, sem liberdade empresarial responsável e iniciativa criativa impulsionadora de progresso no respeito pelos direitos humanos e sociais.”

Excerto do discurso proferido na Assembleia da República no dia 28 de Maio de 1992