quarta-feira, 20 de junho de 2012

DISCURSO DA TOMADA DE POSSE


“ Acaba Vossa Excelência, Senhor Presidente da Assembleia da República, de me empossar como primeiro presidente do novo Conselho Económico e Social. Assumo as responsabilidades que me são cometidas a partir deste momento como um desafio de bem servir. Não tenho dúvidas de que este é um repto difícil, mas aliciante. E por isso o aceito com alegria.
Acompanho esta postura com o sentido da exigência de cumprimento do meu mandato em fidelidade aos princípios essenciais que o enquadram, e que balizam igualmente a matriz da existência e do funcionamento do novo Conselho.
Será pertinente, por isso, recordar que este órgão emana da decisão adoptada na última revisão constitucional. A legitimidade do Conselho Económico e Social advém, pois, do voto dos deputados eleitos pelos portugueses. Acresce a isto que o seu presidente é também eleito pelo Parlamento. A fonte de legitimidade da presidência do CES também radica, assim, na exclusiva vontade dos Deputados. Tudo conjugado, conclui-se pacificamente que o CES ganha raiz na Constituição e só capta seiva através da vontade expressa dos Deputados.(…).
Não há diálogo válido sem ideias. Por isso, parece-me ser meu dever expor algumas sintéticas e provisórias de entendimento quanto ao significado das funções do novo Conselho e sobre o modo como poderão ser exercidas.
A existência de Conselhos Económicos e Sociais obedece, no fundo, à percepção de que na sociedade, se o homem é medularmente cidadão, e como tal sujeito absoluto dos direitos políticos, ele é também (e tantas vezes simultaneamente) detentor de outras vestes: é trabalhador ou empresário, cientista ou camponês, jovem ou pai de família, produtor ou consumidor. Criam-se, assim, espontânea e livremente, organizações ou associações que reúnem aqueles cujos interesses específicos conduzem a essa agregação.
De facto, nas sociedades actuais, perfilam-se, ao lado dos sindicatos de trabalhadores e de empregadores, múltiplos e diversos outros agentes e protagonistas sociais. Emergiram, cresceram e também reclamam voz activa junto do Estado, exactamente porque sentem representar interesses fundos da colectividade. Todos, afinal, espelham a sociedade civil multifacetada do nosso tempo. (…). Poder-se-à dizer, então, que o CES deve forjar e exprimir um elo de ligação entre o Estado e a sociedade civil. (…).
Procurarei, portanto, que o CES seja um lugar de diálogo; diálogo palpitante mas tranquilo, em que as vozes se ouçam, as tarefas se executem, as sugestões se apresentem com credibilidade técnica e os consensos brotem do sentido da lucidez e no sentido da solidariedade.
Senhor Presidente
Concluo, dizendo apenas que venho para trabalhar. Julgo bem que esta é uma síntese pobre de programa apresentável num acto solene de posse e num momento histórico para o novo Conselho Economico e Social, que hoje inicia a sua vida. Não fico, porém, muito preocupado por isso. É que as palavras perdem-se nas folhas dos tempos. As obras, essas, são o empedrado do futuro. Vou pois ao trabalho”.
Excerto do discurso proferido na Assembleia da República no dia 28 de Maio de 1992