quinta-feira, 28 de junho de 2012

PRIMEIRO PLENÁRIO DO PRIMEIRO CES


“O primeiro plenário do novo Conselho Económico e Social realiza-se hoje, no Palácio Foz, convocado pelo seu presidente, Nascimento Rodrigues. (…) O Primeiro – Ministro, Cavaco Silva, dirige-se ao plenário, convidado pelo presidente do CES, para proferir uma saudação de abertura, após o que se retira, iniciando-se os trabalhos a seguir”
INCorreio da Manhã” 24 de Setembro 1992

“ Abro esta primeira reunião do Plenário do primeiro Conselho Económico e Social do nosso País declarando solenemente empossados os seus membros. A todos dirijo as minhas cordiais felicitações pelo mandato que assumem e asseguro-vos solidariedade total no trabalho que em conjunto vamos levar a cabo. Faço-o com uma satisfação tranquila e com consciência plena das tarefas de desafio que a nossa Constituição e a Lei cometeram a este Conselho. Com satisfação tranquila, disse, porque todo o processo de composição dos membros do Plenário do CES desenrolou-se e culminou no mais escrupuloso cumprimento legal e, sobretudo, por forma exemplarmente serena e dignificante. A Lei que regula a composição e a organização do CES, estabeleceu, como se sabe, um esquema diversificado para a designação dos seus membros.(…) Ao Presidente incumbe, procurar consensos entre as entidades concorrentes; e decidir, na ausência de consensos, de acordo com a relevância dos interesses em confronto e segundo juízo da sua consciência. Se relembro este mecanismo legal de escolha das organizações candidatas, é apenas para sublinhar que foi possível a obtenção de consenso total em praticamente todos os casos. E mesmo nas raras situações em que o presidente do CES teve de optar, escolhendo umas e não aceitando outras, é para mim gratificante constatar um acatamento generalizado das decisões. A prova está em que este plenário vai ter que se pronunciar sobre um único recurso de uma organização reclamante.(…) Começamos bem, portanto. É evidente, porém, que só foi avançado um pequeno passo. (…) Devo explicar-me com clareza, para que não haja equívocos na visão que advogo para o papel da nossa instituição. O CES é um órgão de participação, essencialmente em duas vertentes: na vertente consultiva do Governo e na vertente concertativa. (…) Estas funções são distintas e convém perceber que o são. Mas não são incompatíveis. Qualquer delas, porém, tem um enquadramento global de exigência ética. A função de participação consultiva não pode deixar de ser exercida em plenitude. O Conselho tem, pois, o direito de esperar ser ouvido pelo Governo nas matérias em que a Lei o exige. (…). A função consultiva implica, também, que o Governo, mais do que ouvir, escute; para além de consultar, pondere: ademais de estar, compartilhe.(…).
A participação concertativa é outra vertente fundamental do Conselho e vai ter lugar, nuclearmente, na “ Comissão Permanente de Concertação Social”(…). A autonomia de atribuições específicas e o perfil da composição restrita legalmente estabelecidos para esta “Comissão de Concertação” são, portanto, compreensíveis e devem ser olhados com grande empenho, tendo em conta a natureza própria e o alcance significativo da concertação social bipartida ou tripartida. Claro que esta autonomia se entrosa no seio do próprio CES.  Por isso a “Comissão de Concertação” não pode ser visionada e assumida como um Conselho dentro do Conselho. Advogo, ao invés, que a experiência de diálogo e de concertação que as três partes – Governo, sindicatos e associações patronais – adquiriram através de uma aprendizagem naturalmente longa e delicada, pode vir a inspirar uma “praxis” de trabalho noutros órgãos.(…) O CES poderia funcionar então como um polo agregador das tendências dispersivas, muitas vezes isolacionistas, da sociedade plural e multifacetada dos nossos dias.(…). A dinâmica própria dos processos concertativos conduz a sucessos e a inexitos, a avanços e a paragens, a tensões agudas e a apaziguamentos sociais. São iniludíveis, neste momento, os sinais de incerteza da conjuntura mundial e comunitária. Mais forte se deve tornar, então, o empenhamento de todos na promoção do diálogo social e na persistência da sua defesa, com paciência e firmeza.
Como presidente do CES, e em nome do Conselho, exprimo-lhe senhor Primeiro-Ministro, a nossa satisfação pela sua presença e manifesto-lhe as nossas boas vindas”
Lisboa 24 de Setembro de 1992