domingo, 24 de junho de 2012

SEPARAR AS ÁGUAS PARA SEMEAR O FUTURO


“(…) Os desafios muito sérios com que se confrontam as sociedades e as economias europeias implicam e exigem uma compreensão, uma atitude e soluções corajosas e inovatórias na área do sindicalismo, na dos outros parceiros sociais (no sentido lato do termo) e na esfera das concepções e das práticas de concertação social. (…)
Se estou de acordo com a cada vez mais necessária macroconcertação estratégica (portanto, estruturante), receio, em contrapartida cair em equívocos a propósito da micro - concertação (a nível de empresa).
Só deve, rigorosamente, falar-se de “micro- concertação” quando, ao nível de empresa, as negociações entre o(s) sindicato(s) e a administração implicam aí também, a necessária intervenção do poder político, ou seja, do terceiro parceiro social. Isso pode acontecer, por exemplo, quando a empresa careça, num processo de restruturação, do apoio do Estado (financiamentos, programas de reconversão profissional), paralelamente à negociação colectiva conducente ao ajustamento das condições de trabalho às alterações estruturais que a reconversão/ sobrevivência da empresa exijam. Sempre que disso não se trate, então do que temos que falar são de” acordos de empresa”. E estes, que são expressão do tradicional processo de negociação colectiva, poderão tornar-se, no futuro, cada vez mais frequentes e indispensáveis, exactamente devido à rapidez das mudanças tecnológicas e organizativas, à concorrência dos produtos e serviços em mercados abertos, aos novos perfis profissionais, enfim, à globalização da economia e às consequências que esta arrasta.
Não quero com isto dizer que a macro- concertação social nada tem a ver com a negociação colectiva, seja esta sectorial, regional, ou ao nível de empresa. Claro que tem. Mas, se advirto para a questão terminológica da “ micro - concertação”, não é, apenas, por prurido técnico. É por ser também uma questão político- ideológica.
Deve-se aos neoliberais, com efeito, a difusão cada vez mais ruidosa da ideia da concertação social a nível de empresa. Ora, como não somos liberais, mas, sim, social-democratas, temos de separar as águas e ser claros no distanciamento político e na afirmação das razões da nossa diferença. (…)
Ora, se critico a visão neoliberal que aposta no enfraquecimento sindical e aponta para a recusa da macroconcertação social e para uma microconcertação de empresa (…) também critico a concepção e a postura de facto reveladas pelo socialismo democrático de que se reivindica o PS. Com efeito (…) o que é que os factos têm demonstrado? Sempre que se estabelecem negociações tripartidas e quando delas emergem acordos concertativos, temos assistido, frequentemente, a posturas públicas de dirigentes do PS, por vezes dos seus próprios líderes, que vão no sentido de interferir e condicionar a marcha das negociações, ou de criticar o resultado destas quando o seu desfecho é positivo. (…). O que, neste momento, interessa relevar é que não se pode, com coerência ideológica, defender a concertação social quando é boa para nós e, ao invés, opor-se ferozmente a ela quando são outros que estão no poder e a protagonizam com sucesso. Quando isto acontece então impõe-se, também aqui, a separação das águas em relação à prática do socialismo democrático. (…).
Este não é o momento das oportunidades perdidas, esta, sim, é a hora de, mais uma vez, a social – democracia se afirmar como pragmaticamente inovadora e decisivamente ganhadora – não apenas nos votos dos eleitores, mas sobretudo do respeito, da confiança e do aplauso dos portugueses.(…)
Está nas nossas inteligências, nas nossas consciências, nas nossas vontades responder bem ao combate, que vale a pena fazer, por Portugal, pela Democracia e pela Social-Democracia.
E esse combate também passa pela concertação social…”
IN “ Semear o Futuro” publicação dos TSD