segunda-feira, 11 de junho de 2012

DISCURSO DO PRESIDENTE


 É uma honra para o meu País, para o Governo português e para mim próprio ser investido nas altas funções de presidente da 79ª sessão da Conferência Internacional do Trabalho (…..)
Não escondo que sinto uma enorme responsabilidade por este momento. Venho de um muito antigo País da Europa, com uma identidade nacional secular forjada no encontro com outras civilizações e caldeada pelo diálogo com outras culturas, cujos valores em grande parte os portugueses acolheram e fizeram seus. Saberei eu, nesta hora, transmitir-vos a mensagem da unidade essencial do homem, falar-vos a linguagem do entendimento, expressar-vos as minhas preocupações e, ao mesmo tempo, as minhas esperanças quanto a um futuro melhor?”
Preocupado com a situação dos homens e dos povos diz no seu discurso:
 “A juntar aos velhos e gravíssimos problemas da fome, do desemprego, do subdesenvolvimento, das discriminações – novos e não menos graves problemas foram surgindo e reclamam solução:
Desequilíbrios ecológicos que ameaçam todas as espécies; a possibilidade de manipulações genéticas (devido aos espantosos avanços das ciências e das técnicas); o narcotráfico, a SIDA, a urbanização sem freio;
Colocam em risco sério a qualidade de vida e o futuro do próprio Homem- a começar pelos jovens, que são a garantia desse futuro, e a culminar na terceira idade, atirada, nuns casos, para a solidão gerada pela perda da ética familiar, ou afectada duramente, nuns casos, pela falta de uma protecção social mínima (……)
Aqui mesmo, neste velho Continente que alberga a nossa Conferência anual, irrompem confrontações bélicas localizadas, mas nem por isso menos cruéis, com o seu cortejo de mortes, de refugiados em deambulação, de crianças atingidas pela tragédia do desamor. E por muitas outras bandas despontam manifestações de xenofobismo, reacções de intolerância, impulsos de egoísmo concentracionistas, como a prenunciar mais convulsões. Não são, estes, sinais iniludíveis de fundos e sérios desequilíbrios em muitas das nossas sociedades? Nunca, como agora, o nosso mundo teve tantas oportunidades de criar condições para que a plena dignidade do Homem seja alcançada. Na Europa Central e Oriental na África, na Ásia e na América Latina, tal como anteriormente na Europa mediterrânica, milhões de homens conquistaram a liberdade. Estou convicto de que os resquícios ditatoriais que ainda subsistem têm os dias contados. Ser livre está impresso na alma dos homens.”
E, (neste contexto de Liberdade), fala na importância da Democracia:
“É verdade, assim, que a democracia ganha caminho. Todavia, democracia não significa apenas ausência de ditadura. As liberdades que ela postula só são reais, e não meras caricaturas, quando exercidas num Estado de Direito, o que pressupõe o império da Lei e o primado da Justiça.
Por outro lado, a soberania popular não se esgota no periódico exercício democrático do voto universal e secreto. (….) Na sociedade, o homem não é apenas cidadão  eleitor: ele é, igualmente, trabalhador ou empresário, cientista ou camponês, produtor e consumidor, jovem ou pai de família. Por isso é espontâneo e é legítimo que busque associar-se com outros em organizações representativas desses interesses espacíficos”
Genebra 3 de Junho 1992