quinta-feira, 14 de junho de 2012

ENCERRAMENTO DA 79ª SESSÂO DA C.I.T.


A 23 de Junho de 1992 o Henrique profere o seu discurso de encerramento, do qual reproduziremos um excerto

(…) “ É preciso agora – neste preciso momento em que este vento de ânsia de democracia sopra por todas as bandas – não permitir que se caia no erro fatal de se conceber a democratização como uma “moda que se mudará ni fim da estação. E é preciso igualmente que não se tombe na ilusão fatídica de se pensar que a democracia política pode sustentar-se sem a democracia económica e social. (…)
Não compete à OIT nem interferir nas questões políticas, nem nas escolhas institucionais dos sistemas políticos. Mas não pode deixar de lhe incumbir, em primeira linha, um contributo específico e incomparável na inspiração e na formação dos valores democráticos, que sedimentam e fazem crescer o tripartismo e o diálogo social, ocorra este apenas entre sindicatos e empregadores, ou também entre parceiros sociais e governos. (…)
Se insisto nesta prespectiva de democratização das relações profissionais e da concertação tripartida, é porque admito que os outros grandes e nobres objectivos, acolhidos como prioritários para os próximos anos, dificilmente se alcançarão sem um empenhamento comum dos governos, sindicatos, associações de empregadores e, até, de outras instituições livres, emergentes da sociedade civil, cujas finalidades legítimas abarcam também a realização desses objectivos. (…)
Eis, muito em síntese, a razão porque a OIT, que se posicionou sempre como trincheira da frente de combate à injustiça social, deve continuar a pilotar esse combate. (…)
Senhores Delegados
Já tive a oportunidade de qualificar esta 79ª sessão como a Conferência da tranquilidade e da eficácia. Há excelentes razões para vos felicitar por isso. Tranquilidade não significa inacção ou conformismo. Ao contrário: é em clima de tranquilidade que as reflexões se tecem e emergem com profundidade, as actividades se programam com racionalidade e os resultados se alcançam com eficácia. (…) Conferência da tranquilidade, pois. Mas também, e por isso, Conferência da eficácia. Eficácia que se fica a dever a todos vós, a começar pelos vice-presidentes da Conferência, que tanto apoio me prestaram, aos delegados e conselheiros técnicos, aos inúmeros e anónimos funcionários que se desmultiplicaram em trabalho sem horário e dedicação inexcedível para que tudo funcionasse com prontidão e com eficiência. Para todos vai a minha profunda gratidão, sem esquecer os intérpretes da língua portuguesa, que nesta Conferência foi utilizada no plenário e nas comissões, motivo de justificada satisfação para todos os sete países que se exprimem em português. (…)
Chegamos, assim, ao último minuto desta Conferência. O presidente passa, a Conferência continua no próximo ano.
Não escondi, nas palavras que proferi na sessão inaugural, as pesadas preocupações que sobre todos nós impendem. Por isso, a resposta aos problemas da injustiça social, velhos ou novos, não podem passar pela utopia, que nos conduziria ao abismo. Também não deve passar pala miragem de que amanhã acordaremos todos num mundo melhor. Temos que ser realistas, pragmáticos, lutadores mas lúcidos, neste eterno combate pela felicidade dos homens.
Todavia, exactamente porque somos homens e não deuses; exactamente porque somos homens e não máquinas de trabalho – temos alma.
Permitam-me, então, que termine a minha mensagem, invocando um poeta do meu País, que diz assim
“ Sempre que um homem sonha, o mundo pula e  avança”
Desejo-vos a todos um feliz regresso aos vossos países. Muito obrigado”. 

Genebra 23 de Junho 1992