quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A FALAR TAMBÉM SE APRENDE


Em Setembro de 1994, o Henrique responde a perguntas do jornalista da APG (Boletim mensal da Associação Portuguesa dos Gestores e Técnicos dos Recursos Humanos).
Pergunta- “Como pensa que tem evoluído qualitativamente a gestão de recursos humanos em Portugal? Será que estamos a entrar numa nova era em que se dará prioridade às pessoas e se combaterá a exclusão?”.
Nascimento Rodrigues- “ Sem dúvida, tem havido uma evolução qualitativa. Mas falta ainda um longo caminho a percorrer. É pacífico o entendimento de que a valorização dos recursos humanos é o instrumento mais eficaz que possuímos para operacionalizar o processo económico e o desenvolvimento social. A grande aposta tem que situar-se aí, na área da educação e da formação. Mas isso não basta, conquanto seja indispensável. É também necessário saber gerir bem os recursos humanos mais qualificados, porque a mais valia obtida através da resposta a que me referi vai exigir uma gestão qualitativamente diferente daqueles recursos.
Desde logo, porque estes, sendo mais qualificados, não aceitarão uma gestão menos apta, acomodatícia, ultrapassada no tempo e desligada dos novos valores da dobragem do século.
Também, porque a própria gestão tem de aperceber-se, em tempo útil, de que ela própria não pode deixar de se adaptar aos desafios que já aí estão e continuarão, nos próximos, a confrontar-nos com exigências de flexibilidade mental, antecipação de medidas, criatividade nas soluções, diálogo permanente (e paciente…) com os outros, enfim, qualificação contínua e responsabilidade atenta.
A gestão dos novos recursos humanos implicará, por isso, novas exigências no estímulo a criar nas pessoas, no encorajamento à sua inovação e responsabilização acrescidas, na obtenção de melhores níveis de qualidade (no trabalho, nos produtos, nos serviços).
Implicará também, uma perspectiva lúcida quanto às consequências do processo de internacionalização da economia e dos seus reflexos nas empresas. Alguns destes poderão ser dolorosos e nem todos serão fáceis. A gestão dos recursos humanos tem de ser a protagonista de uma mudança económicamente necessária e socialmente não excluente.
Na maioria das nossas empresas, que são PME, não se pode falar, própriamente, de uma gestão de recursos humanos, como provavelmente não se pode falar de inovação nos produtos, de marketing, de boa gestão de stocks, ou de correcta avaliação de novas oportunidades de negócios e de novos mercados.
Nas empresas de maior dimensão, a gestão dos recursos humanos vai ter de enfrentar os problemas que atrás aludi. Espero bem que o eixo prioritário seja o de se fazer um esforço para reter as pessoas e não para as dispensar, salvo em situações de ausência total de outras alternativas préviamente procuradas. Mas também vai implicar que as pessoas entendam que, sendo o emprego um bem precioso, têm de saber defendê-lo, não através de atitudes conservadoristas e de pura oposição às mudanças necessárias. O diálogo, a informação e a consulta, a formação para a mudança, em tempo útil, têm, aqui, um papel decisivo”.
In “APG” nº 5 Setembro 1994