sexta-feira, 10 de agosto de 2012

DESEMPREGO E ESTADO PROVIDÊNCIA


Em Maio de 1994, numa conferência sobre o tema: “ O Desemprego e o Estado Providência na União Europeia”( Uma posição para o contributo do PPD/PSD), o Henrique, depois de se ter referido, em síntese, à transformação evolutiva, (nos últimos 30 anos), do desenvolvimento económico e social na União Europeia, e de ter apontado, causas para essa evolução, afirma:

(…)“No contexto destas dificuldades, que a honestidade intelectual e cívica não deve escamotear, observo que uma corrente de pensamento, dita neoliberal, propugna soluções que considera as mais adequadas à solução dos problemas do crescimento, da competitividade e do combate ao desemprego, e essas soluções passam, nuclearmente:
pela desregulamentação (a que pudicamente chamam flexibilização) do mercado de trabalho, alinhada a uma descentralização das negociações colectivas para o nível da empresa (…)
pelo desmantelamento, ou, pelo retrocesso acentuado das garantias dos sistemas de protecção social (no sentido amplo do termo), uma vez que prospectiva a incapacidade financeira da sua sustentação e, por outro lado, porque só dessa forma se eliminaria o espírito de acomodação e de “manjedoria” perante os orçamentos públicos (do Estado ou Segurança Social), o que não deixa de se traduzir, em certa medida, de exploração do homem pelo homem – neste caso, de exploração do cidadão activo, empreendedor e culturalmente capaz pelo cidadão absentista, empedrenido à mudança e saloiamente apto a viver à custa dos outros;
pela filosofia nuclear de que a história da humanidade revela que a solidariedade não é compatível com a liberdade de mercado, com o espírito de iniciativa e com o direito de os “melhores” se constituírem em vanguarda do processo da humanidade. (…)

Nesta hora crucial de uma mudança talvez de paradigma civilizacional, nesta encruzilhada decisiva em que se joga o futuro da Europa e do nosso País, (…) nós, social democratas, temos o dever de não nos envergonharmos de o ser.
Pelo contrário: temos o dever e o direito de proclamar que continuamos fieis aos valores imutáveis de preservação da dignidade de cada homem e de todos os homens, aos princípios das liberdade e da solidariedade activa, às atitudes de abertura à inovação – que é diferente da corrida às “modas” conjunturais – de rigor ético, de correcção de comportamentos, de valoração do espírito de livre empreendimento e de mercado livre, sem prejuízo, nunca, de intervenção correctiva do Estado, quando as regras do mercado tenham como consequência a destruição da coesão económica e social  de uma sociedade justa, democrática e progressista.
Estes são princípios e valores de que não devemos abdicar nunca, na linha da social democracia portuguesa. Uma social-democracia que não é tecnocrática, porque seria desumanizada – mas que é, e tem de ser cada vez mais, reflectida, dialogada, permanentemente posta à prova pelo estudo, pelo trabalho sério, pela dúvida de quem sabe que não sabe tudo e, provavelmente, até sabe pouco.
Uma social democracia que, por outro lado, sabe quanto ilusório e nefasto é pretender dar satisfação populista a anseios dos cidadãos, através do aumento desmesurado dos deficits públicos, da sangria da poupança nacional, da manutenção de privilégios corporativistas – porque essa via, tão típica do socialismo, mesmo “aggiornato”, a nada conduz senão ao sacrifício da geração futura, quando não desde logo, ao sacrifício da nossa própria geração daqui a poucos anos”(…)
Lisboa, 5 de Maio se 1994l